terça-feira, 28 de abril de 2009

respiração acelerada. dor de cabeça. o balançar do ônibus causando arrepios em quem só deseja chegar em casa. sem supresas, sem clímax, sem final feliz. quer meio feliz, começo feliz, quer não pensar em final.

as placas nas ruas, à noite, fazem refletir. está tudo errado. só quer bater a porta e assistir à novela. cansou da tv a cabo com suas séries, seus documentários. quer família, almoço, jantar, passeios nos fins de semana.

a vida parece tê-lo colocado contra si mesmo. contra o que havia de melhor em tudo. a dor de cabeça não mais cura com analgésicos, é crônica. é poesia.

domingo, 26 de abril de 2009

bernardo comprou um despertador. precisava de algum barulho que lhe fizesse acordar. acordar do sono de proust. um sono que se detalha enquanto é dormido.

nada sabia sobre o mundo de dia, sobre as pessoas que viviam de dia. mas curtia cada minuto da noite, e dos sonhos sonhados enquanto o sol cismava em aparecer.

mas agora bernardo tinha despertador, quis conhecer o dia e todos os prazeres que ele pode proporcioná-lo.
a vida é feita daquilo que se deixa pra trás. daquilo que tivemos que abdicar. nossos melhores planos são aqueles que deixamos de realizar. as melhores fotos, as que não tiramos. os melhores amores, os que não vivemos.

sempre dói pensar que o que se deixa pra trás pode nos tornar mais felizes que a luz à nossa frente.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

não faltavam perguntas para responder. a todo instante alguém perguntava sobre seu estado, sobre seu misto de sentimentos e frustrações. nunca teve nada a esconder, mas naquele momento não tinha nada para mostrar também. o que lhe faltava eram as respostas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

batendo e soprando eles tinham a certeza da complexidade de cada carência. testavam-se em todas as frases e preferiam não mais passar por testes. faltava a aprovação, total e inequívoca. precisavam validar o que já tinha validade, pelo menos para a individualidade de cada um. individualidades que só existiam nas cabeças de ambos. ou na cabeça, pois sempre foram uma coisa só.

desde que se conheceram o quebra-cabeças foi se solucionando sozinho, foi criando forma de paisagem bonita, tão bonita que nem precisavam finalizar o jogo. tinham certeza de que no dia em que finalizassem ele ficaria jogado de lado. numa espécie de sopro infinito. e eles sempre precisaram bater.

bater era a certeza de prolongar o horizonte do quebra-cabeças, e de fazê-lo perdurar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

me espera no portão, na mesma hora de sempre. pode ter certeza que eu vou passar, pelo menos pra te levar ao cinema. assistir ao último woody allen. ou ao primeiro, último por ser o mais recente. põe a flor no cabelo, marina, e vê se não atrasa, a gente já perdeu o cinema outras vezes. pode ir descalça, deixa o pé sujar, de lama, depois limpa. se a gente perder o cinema não vai ter problema que a gente bebe num bar. depois eu te levo em casa, espero entrar olhando e namorando pelo portão. quando a porta bater eu finjo que nada aconteceu, volto pra casa e leio alguma coisa. no dia seguinte a gente não se vê, há distância demais, mas não é problema, nem nunca foi, não esse, não isso.
corta'li.
part'aqui.

isso, cada palavra no seu lugar,
posso agora pensar em começar,
pra não perder o ritmo, vou bem devagar.

isso aí, tem que ter amor,
poema sem amor não é poema,
poema de verdade tem que ter dor,
se é poesia tem que ter dilema.

pode aumentar o ritmo,
tô entrando no clima,
putaquepariu, não sei rimar com ritmo.
quebrou tudo, assim desanima,
queria meu poema com rima.

vou tentar de novo,
mas dessa vez com conteúdo,
posso ensinar ao meu povo,
algo de útil, sobre tudo.

que ódio,
não sei fazer nada disso,
preferia tá fazendo química,
mexendo em potássio, em sódio.

pára e pensa,
forma e conteúdo não combinam,
a forma o conteúdo dispensa.

conteúdo que é bom mesmo não liga pra forma,
daí ninguém lê, ninguém pensa,
ninguém transforma.

terça-feira, 21 de abril de 2009

é inevitável o atrito, ainda mais com tanto contato. ainda não conheci a moeda de uma face só, há sempre o revés. o contrário e o contrário do contrário.

o ódio sempre carrega o amor atrás. o medo, a coragem. o bom, o ruim.

eu, ela.

domingo, 19 de abril de 2009

o olhar resfriado dela o causava náuseas. aqueles olhos lacrimejantes o faziam lacrimejar também. a pele parecia ter perdido a febre. tudo frio demais, não fossem pelos olhos que ardiam em vermelho. ele sempre quisera ser o antibiótico dela, e ela, sem saber, sempre fora o dele.

esqueceram-se que antibiótico em excesso perde o efeito. logo ela que estudava biologia.

hoje, ela vive sem os sintomas que tanto lutava para curar. ele apenas vive, espera a morte assintomática, aos poucos. sem aquele drama, sem aquela gostosa dor.
ele fumava cigarro de filtro branco. deixava claro que o estresse não era bastante pra trocar a cor do filtro. lá estava ele, lendo O Globo, no chão da rodoviária, escondido atrás de seu Ray Ban. a notícia capa do jornal dizia estar acabando o embargo a Cuba.

(o mundo realmente parecia virado pelo avesso)

seu melhor amigo, que até então lhe parecia distante, estava à sua frente, apenas pra conversar amenidades até que a hora de embarque chegasse.

dentro do ônibus ele sentia-se como Cuba, isolado num pensamento que ninguém mais compartilhava. perguntava-se quanto tempo duraria o embargo. quis exilar-se.

ao ler a confissão de raul de que cometera erros a reflexão foi instantânea. ele sabia que não se pode unir-se com o lado perdedor. mas naquele momento tudo já era perdido, e nada restava a não ser trocar a cor do filtro do seu Marlboro.

sábado, 18 de abril de 2009

quebrando os pés, de pé.

que peste. piso em pedras que, cada vez mais, me punem. os meus vícios têm se encarregado de me consumir por inteiro. as drogas me alucinam todo o tempo, e são drogas caretas.

não existe nada pior que drogas caretas. elas te fazem sentir tudo sabendo estar sentindo.

sinto meus pés sem sapatos, sem meias, sem pele. sinto-os quebrados, inteiros e de pé.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

parece que aquela universidade transmite a frieza por osmose. não sei se são as paredes sem pintar ou os antigos alunos que já passaram pelo processo. a verdade é que nem nas rampas nota-se subjetividade ou afeto. a burocracia do lugar parece ter transformado todos em seres humanos ausentes de humanidades. acredito que mesmo se cada andar tivesse uma cor, a do décimo seria cinza. e quem poderia manchar as paredes de amarelo parece sumir à tarde. eu é que não vou meter as mãos na tinta; tenho medo de alguém reclamar depois.
impressionante como um mal entendido pode mudar a vida das pessoas. hoje tenho certeza de que estou mais escuro. meu verde parece musgo, deixou de ser limão. meu azul, marinho, perdeu a turquesa.

talvez a frieza esteja tomando conta de mim, e o sangue bombeado pelo meu coração esteja cada vez mais denso. denso em tudo. em amor, em ódio, em dor e em medo. tô cego em relação ao meu futuro. e é triste saber que fui eu que cravei os pregos nos meus olhos, pois sempre houve um horizonte, e eu deixei que tudo se apagasse.

só uma pessoa é capaz de me trazer de volta o amarelo manga. e o vermelho? ah, o vermelho é e será sempre vermelho.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

num papel de bloco

"leva esses livros pra mim na sexta. não esquece!

TE AMO MUITO!

Beijos.

PS.: não deu tempo de arrumar direito."
"é como se eu tivesse aberto o flop, com às e reis nas mãos, e visse sobre a mesa um seis, um nove e um três.

ainda restam o turn e o river.

mas levar a mesa num river é apostar demais em si mesmo."

cada dia que passa me sinto mais distante. as decepções tem preenchido meu tempo vago.

domingo, 5 de abril de 2009

que bom que a capitu não tinha um blog. porque, se tivesse, quem não sabe ler estaria até hoje buscando algo nas entrelinhas, esmiuçando cada palavra.

sorte dela que morreu sem se explicar. chega de explicar o inexplicável.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

é estranho como meu humor muda a partir de vozes.

é ouvir uma delas e sorrir. pago caro por isso, mas ainda não sei quanto vale meu sorriso.
porque tudo se repete. independente do que a gente faça, nossa vida é recheada de tumores. é errar em uma única mutação, em um único minuto, que o erro tende a se multiplicar. e as proporções aumentam com a idade.

as vicissitudes da vida são experimentadas da forma mais dolorosa possível, com a morte de umas células e com o nascimento de outras. às vezes a que se reproduz é uma novinha, perfeita, mas na maioria delas a reprodução exponencia os neoplasmas, e corre a morte toda.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

tem uns livros que sei não vou ler.uns discos que sei não vou escutar. e uns filmes sei não vou assistir. preferia não saber ler, ser surdo e cego. ter consciência daquilo que descarto só me faz mal; e não são só livros, canções e filmes.
às vezes eu olho quantas pessoas acessaram o blog e fico assustado. fico me perguntando por que tantas pessoas insistem em ler o que escrevo. algumas são de lugares que nunca visitei. peço às pessoas que cismam em aparecer por aqui que deem sinais de vida, apareçam também no Twitter, no Orkut ou mesmo no email.

Eu escrevo para que alguém leia. Sei que minhas letras são bem pessoais, mas se alguém se interessa por isso quero saber quem é e o porquê.