domingo, 23 de maio de 2010

definindo

é a ordem natural dos desejos. eles vêm, são saciados, e deixam de sê-los. desejar é como ter não tendo, como apropriar-se do destino para sorrir com ele. mas na vida só o que existe é passado, só passa a existir quando morre, e desejos seguem a mesma lógica. são como aquela obra do artista morto, que ganhou valor quando não poderia mais ser produzida.

eu prefiro continuar vivendo vivo. desejando para sentir-me a mim mesmo. produzindo diálogos, textos, contos, ódio, amor, dores, ânimos, sobras, gestos, sabores, texturas, cores. o sonho é sempre mais bonito quando se está dormindo, é bem sabido, mas acordar e vivê-lo diariamente torna-se completamente gratificante quando busco a "vida longo prazo bonita zona sul".

entender meus desejos não me amputa a liberdade de sonhar. mas sou como aquela criança que recebe o presente sonhado e, em duas semanas, esquece de sua existência.

toda ideia inexiste no mundo real. ideias são ideias porque são apenas. desejos são desejos pelo mesmo motivo. inquantificáveis como a saudade que neste minuto sinto da moça que está em Barra Mansa, que vai passar amanhã, quando ela voltar de novo.


segunda-feira, 17 de maio de 2010

amor de carpete

todas as vezes a moça pensava ser a última. ela se esforçada para que não fosse, queria convencê-lo de que ele era mais feliz com ela. por vezes conseguia. na maioria delas não. ao mesmo tempo em que se subtraía e dava a cara aos tapas e ao gozo, ela se torturava. estava entregue e consciente disso.

com os joelhos arranhados pelo carpete manchado, ela chorava. não pela dor causada no ato sexual. mas pelo medo de que fosse a última vez. que dali pra frente seu joelho nunca mais visse o carpete tão próximo. ela tomava o ônibus de sempre, depois do banho, e, por horas, olhava a paisagem pensando se havia outra forma para viver.

a submissão tornou-se insuportável. ela pegou o mesmo ônibus e não voltou. ele também não ligou para saber. trocou o carpete que considerava velho, perdeu seu tempo de vista e seguiu.

dizem que os joelhos da moça ainda ardem às vezes, mas que ela nunca mais usou as roupas manchadas de sêmem. quanto a ele, continua no mesmo lugar, à espera de que um dia ela bata na porta novamente.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

para não dizer que não escrevi feliz

o computador insiste para que eu escreva algo bonito, que demonstre os traços da minha nova vida. mas eu me mantenho alheio. custo a acreditar que estou onde estou. que sou quem há pouco gostaria de ser. a tela brilha para mim, e eu, sem tempo, prefiro viver cada segundo dessa plenitude.

minhas cores têm sido vivas e meus sorrisos sinceros. o blog cedeu sua organização à minha vida, e as palavras escritas a imagens guardadas na retina. nada me atinge. nada me tira do pedestal de ser feliz. eu sou porque mereço. porque te mereço e ainda mais.

é que com o computador exigindo que eu cuspa palavras fica difícil, mas é isso mesmo: eu precisava do equilíbrio que você me trouxe.

e foda-se o computador.