domingo, 31 de maio de 2009

sobre os amigos e aquilo que importa

o homem não consegue se entender com suas vontades e necessidades. a geléia vem antes do pão. a sobremesa, antes do prato principal. é sempre melhor pensar no depois. mesmo quando o agora se escancara e grita que sem ele não há mais tarde.

talvez certos estejam eles, que nunca pensaram à frente, nem cultuaram o passado, sempre estiverem exatamente onde estavam. parados. ali, onde tudo acontecia e antecedia o dia seguinte igual. sem sombras nem planos.

eu achava que éramos todos assim. mas foi só coincidência. os momentos deles, simplesmente, rimavam com minhas aspirações, e hoje contrastam até mesmo com o que de meu já ficou. de qualquer forma, continua sendo poesia sem rima, polifonia desconexa e bonita.

somos vetores que seguem sentidos diferentes. porque se ser pra frente é ficar parado, prefiro continuar sorrindo lá atrás, naquele lugar onde tudo acontecia em uníssono.

terça-feira, 26 de maio de 2009

em construção

é aquela sensação de desencontro desastroso.
é a saudade contrastando com o controle.
é a insônia que parecia finita prolongada por horas e horas de orgulho.
é algo muito forte que me mantém imóvel, impróprio.

são as perguntas que surgem sem as corretas companheiras.
são os óculos escuros que escondem as impressões mais improváveis.
são os chinelos que já preferem criar caminhos contrários.
são os desejos que desejam ser esquecidos, esgotados.

é amar sem amor, sem amante. é maldade e masoquismo compulsório, compulsivo.

são as certezas se diluindo nas palavras e silêncios escolhidos pelas bocas dos artistas da vontade.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

sirene insuportável

nunca soube distinguir quando era ambulância e quando era polícia pelo som. ficava com medo, quando era menor, achando que onde havia sirene, havia tiroteio e risco de vida. talvez até fosse verdade.

eu sei que agora é como se eu estivesse cego, ouvindo uma sirene insuportável que sai de dentro do meu próprio corpo. continuo não sabendo se é a polícia me punindo pelos crimes que eu cometi. ou uma ambulância me levando para o hospital por causa dos danos que sofri.

domingo, 17 de maio de 2009

é tensão ininterrupta. quando tudo parece caminhar o telefone toca, umas palavras desviam o destino, e outras, não ditas, deixam a sensação de que falta ainda. pode ser a confusão de sentimentos que costumamos apelidar de maturidade, ou um simples mal estar por estar. estar fazendo tudo da maneira que parece certa e não enxergar os resultados. é a quase certeza de que quando o quadro está perfeito a tela começa a desfiar. é o não depender mais de si.

o que conforta é saber que quando se faz tudo certo, uma hora as coisas acontecem.

se o problema está no detalhe, é melhor entregar-se à amnésia, já característica daquele que não dorme com medo do telefone tocar.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

sobre o tempo e os caminhos

às vezes a gente se vê cercado de caminhos, de certezas que não se revelam reais no final. as pessoas procuram palavras que traduzam os sentimentos mais complexos, as frustrações mais dolorosas, e os esforços mais inúteis. nessa tentativa de traduzir o intraduzível o tempo elimina o cercado de caminhos e impõe os mais longos. as conversas de horas que buscavam conselhos e elucidações se repetem. o mapa está ali. bem na frente. com todas as paradas previstas e estudadas por alguém que já repetiu o caminho da derrota diversas vezes. não adianta se esconder, uma hora só vai restar uma direção.

é a hora de perceber que as possibilidades se foram bem antes das lágrimas escorrerem.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

caetano não pára de cantar. as músicas se repetem, o tempo todo. ainda bem que os papos não. as pessoas entram na minha vida sem pedir licença. sem tocar interfone, sem falar com o porteiro. minha vida sempre foi assim. mudanças, mudanças, papos, papos, amigos, amigos. é translação, rotação, é inquietação. é o não saber parar o ponteiro do relógio; é o não saber colocar o depertador no on.


brahma, antarctica, skol. cada dia é vivido com um espírito, com um pensamento, com um amor. cada dia é vivido nesse único e confuso corpo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

talvez seja o mau humor ou a insônia. mas meus amigos não são mais aquelas pessoas que sempre foram pra mim. parece que há uma pedra no caminho de cada um. nossa felicidade não é proporcionada mais pelo mesmo momento, pela risada simples, pela piada bem dita. o diálogo sumiu, o que há são monólogos em grupo, mistura de som e de frases que juntas não fazem sentido. eu devo estar errado, mas eles demonstram-se cada vez mais perdidos, e é estranho porque parece difícil demais perder-se num mundo tão pequeno. meu silêncio é cortado por umas palavras que soam estranhas pronunciadas por quem as pronunciam. foi só um fim de semana. ilustrativo. mas só um fim de semana. espero que seja impressão, impressão de quem virou a noite e foi incomodado durante as três horas da viagem para reencontrar aquelas antigas e necessárias palavras.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

do lado de lá

sobressaltada ela acordou sem saber que horas eram. com as cortinas fechadas, o sol não lhe dava pistas, teve mesmo que acender o celular. estava atrasada, havia marcado nove horas. a noite regada à Stella a tinha feito esquecer dos compromissos. banho rápido, sem lavar os cabelos recém-pintados. ray ban escondendo as olheiras e coca light na mão, tinha achado no zona sul de ipanema e resolvera matar as saudades. nada melhor que uma coca para aliviar a ressaca. parada rápida na banca de jornal, seu cigarro tinha aumentado de preço, trocava, portanto a caixa pelo maço. correu em direção ao ônibus inultilmente, o motorista parecia estar com pressa. acendeu um cigarro, esperou o seguinte e seguiu.

terça-feira, 5 de maio de 2009

o início

ele sempre achou a coca light mais charmosa, o prateado lhe chamava mais atenção que o preto da zero. não interessava o sabor das duas, a melhor sempre foi a comum engarrafada. talvez o vidro tenha alguma influência, ou os conservantes fossem diferentes. mas dane-se, o charme da light lhe causava calafrios. perguntava-se todos os dias por que ela sumira, já que nos estados unidos ela ainda é encontrada por todos os lados. um dia viu no ponto de ônibus a moça de cabelos curtos cor de scotch oito anos, ela fumava marlboro light e tinha em mãos a lata prateada. onde ela conseguira aquilo? que ônibus esperava? passou um qualquer que ia pro leblon, só podia ser leblon mesmo. de salto alto ela subiu, e desapareceu na direção de ipanema. a moça morava ali por copa? tinha ido resolver algum problema e estava voltando pra casa? queria ser o trocador pra saber exatamente onde desceria a coca light. decidiu pegar o próximo ônibus pro leblon, arrependeu-se de não ter ido no mesmo. ela estaria na travessa, certamente estaria na travessa, lendo qualquer coisa marginal, com outra lata prateada em cima da mesa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

dorme bem. que enquanto você dorme se desprende de todo o dia. do teatro dos diálogos, das caras e bocas dos desejos. dormindo qualquer um é inocente. põe roupa confortável, sem adequação de cor, sem maquiagem, com bafo. espero você dormir para te enxergar de verdade, com olhos covardes que veem sem ser vistos. olhos resfriados com a sinceridade da sua respiração. mão no travesseiro, mudança de lado. não, acorda não. não quero papo, volta a dormir, volta que nesse retângulo quadrado basta um acordado. sono exige quietude, tenta parar de se mexer, tô há horas tentando dormir e não consigo por causa dos seus movimentos parados.

domingo, 3 de maio de 2009

cada uma das pessoas que entra naquele vagão do metrô tem suas preocupações. amores, saúde, família, grana. umas sabem ao certo pra onde vão, outras clamam por informações para decidir seus destinos. o metrô é o transporte hermético, a fuga das opções, é descer ou não. e se esquecer de descer é só voltar. pelo mesmo caminho, por um trilho que só se diferencia do outro pela direção.

o homem que resolve seus problemas a pé tem o direito de parar entre a arcoverde e a siqueira. entre são cristóvão e maracanã. mas anda sozinho, por caminhos infinitos e desconhecidos. enxerga a sujeira da rua, desanima e anima, anda, pára. perde-se, acha-se. no metrô é só escuridão, é só voz nos alto-falantes, correria e escadas rolantes. metrô é atalho, sapatos são possibilidades.



- um bilhete duplo, por favor?
é que o mundo sempre faz questão de lembrar
dos caminhos que levam de volta ao lar,
do tempo, das voltas, que se deve esperar


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sexta-feira, 1 de maio de 2009

o sol invade meu apartamento diariamente pela minha janela. exagero máximo de tudo. cor, textura, temperatura. tudo foge do real quando é atingido pelos raios. manter-me nublado parece cada vez mais difícil.



o sol não desiste de me exagerar.