terça-feira, 31 de março de 2009

tem uma máscara pendurada na parede da minha sala. o homem que me vendeu disse pra sempre que olhasse pra ela lembrar do dia em que foi comprada.

estava bem frio, rolava uma festa junina caída, um bingo de igreja e tinha também uma enorme fogueira. um filme do spilberg dublado encerrou a noite. tinha tudo para ser péssimo, mas foi ótimo.

hoje, só não me escondo atrás dessa máscara porque sei que se colocá-la no rosto nunca mais poderei olhar pra ela.

sábado, 28 de março de 2009

bilabial

pequenas massagens mesquinhas, bestas, mas bonitas.

perto, bem perto, bocas meninas permeiam-se. beira pro maior pecado: beijos mansos, moleques, putos, brandos.

pode parar. beijo manso mancha boca, prende o pranto, bate porta.

mesmo morto, beijo mente, magoa, machuca, parte.
se ele tivesse noção do que abdicava ao fumar seu cigarro, depois de desvirar o colchão, largaria o vício. o espaço parecia pequeno demais para o homem que queria engolir o mundo. o tempo escasso para quem queria estar em todos os lugares, com todas as pessoas ao mesmo tempo. nunca soube dividir, sua calculadora só tinha o sinal da soma. acabou que aos poucos foi subtraindo e traindo a todos. estava com um quando queria estar com outro, chegava em casa arrependido de ter estado com quem esteve. naquele estado já não queria estar com mais ninguém. queria apenas ser, sem poréns, sem o detrimento e a escolha. preferia escolher ao acaso, sem fiel, sem balança, sem sinais.

sexta-feira, 27 de março de 2009

e os relógios já não marcavam a mesma hora. o fuso era diferente demais para chegarem aos lugares juntos. quando ele queria, ela estava cansada. quando ela queria, ele já havia desistido. quando ele bebia, ela enjoava. e os horários cada vez ficavam mais distantes, tão distantes que se econtravam de vez em quando. e nesses momentos eles tinham certeza que haviam acertado os ponteiros e que seguiriam sem mais desencontros. estavam errados, mas persistiam porque mesmo vivendo distantes sabiam que uma hora ou outra teriam instantes que os fariam continuar.

nos outros momentos pensavam em desistir, desistiam e tentavam. mas os ponteiros se cruzavam quando eles não queriam, nem adiantava adiantar, o remédio era a espera.

quinta-feira, 26 de março de 2009

músicas, frases, rascunhos, lençóis, lugares, transportes.

o tempo deixou as marcas que só ele pode levar.
ele dormia e sonhava durante o percurso. pensava que o trem ia parar e que ia descer. faria tudo que quisesse pela estação, e, sem cruzar a roleta, voltaria pra seguir com o próximo trem. não tinha dinheiro para outra passagem.

só que, quando ele saiu do trem, procurou pelo que mais sonhava por toda a estação e viu que brilhava lá fora, pouco depois da roleta. sem nenhum pudor desistiu de pegar o trem e foi buscar o sonho.

hoje, ele tá esperando alguém quantificar o valor do sonho pra que ele possa vendê-lo, porque ele sabe que sem o trem não pode mais sonhar.

quarta-feira, 25 de março de 2009

porra nenhuma

a verdade é que não lembro de frustrações na minha vida. as coisas acontecem da melhor forma, e sempre foi assim. tudo muito fácil. nenhuma imposição ou restrição. as críticas sempre foram levadas com o bom humor de quem sabe que quem critica não sabe o que diz. os elogios infinitos, e encarados com a consciência de que sempre foram exagerados.

estranha a leitura que me parece tão clara: fui mimado pelo mundo e cansei disso. entrei num conflito que busca a derrota. a derrota sim, porque sempre se busca o que é raro. e eu nunca perdi, nunca mesmo.

necessito dos limites, do fim do egoísmo e da admiração de quem nem sabe quem eu sou. quero ser castrado, definitivamente. preciso sentir dor, de cotovelo, física ou de perdas. quero conhecer isso.

e tenho feito de tudo para alcançá-la. sinto inveja dos que temem e sofrem, porque eles crescem muito mais que eu, parado num falso pedestal.

terça-feira, 24 de março de 2009

conversa de maluco

- tem certeza disso?
- absoluta.
- toda certeza é absoluta.
- nem toda, a sua não.
- é, mas se é certeza tem que ser absoluta.
- mas no seu caso não.
- então não é certeza.
- é, talvez não seja. mas as certezas sempre me impediram de andar.
- então vai andar.
- mas às vezes é melhor ficar parado que andar pra trás.
- você é louco, esse negócio de frente e trás é sentido de vetor.
- não entendi nada do que você falou.
- te amo.
- também.
ele sai com os olhos escorrendo e com o nariz lacrimejando. tudo parece fora do lugar pra alguém que ama com a cabeça e pensa com o coração.

o foco estava perdido e não queriam encontrá-lo. até que um dia, mesmo sem a vontade de ninguém, ele foi se achando, o estrabismo foi-se, sozinho, sem pedir permissão.

e ela, que já desistira de pensar com a cabeça e amar com o coração, foi de encontro ao homem que andava com as mãos e escrevia com os pés.

(pode ser que continue)

quinta-feira, 19 de março de 2009

é difícil mesmo aceitar a idéia do meio termo. tem que ser bom ou ruim. honesto ou canalha. bonito ou feio.

Por quê?

toda verdade carrega mentiras, e vice-versa.

a fotografia em preto e branco não tem preto nem branco: o que cria as formas é a tonalidade do cinza.

fotografia

era o momento da fotografia,
pra lembrar daquele dia,
do amor que se esvaía,
dos nós que ainda havia.
(e que eu não mais via)
quanto mais eu busco as explicações, mais me questiono. a saída é aceitar as conveniências, rebater os achismos e os bodes espiatórios. sem fuga, mas sem procura também.

achei que gradativamente os hábitos se criariam e a esperança fosse embora, mas não. pelo menos ainda não. me sinto num sonho sonhado pela metade, daqueles que você passa o dia inteiro imaginando como terminaria.

terminou. no meio.

terça-feira, 17 de março de 2009

só pra resumir

Thiago Pontes (Rio, avô, Nathália, assalto, fim. Vassouras, Arco-Íris, C.A, Luisa, geleca na Rachel, xadrez, Sílvio, Gil, Guilherme, Lucas, guitarra, Pedro Henrique, Macaé, fim. Rio das Ostras, depressão, praia, Tíbia, Vassouras, Pedro Fernandes, Raphael Huebra, Glaucineide, Hopi-Hari, Felipe, Raphael Vieira, tenis de mesa, condomínio, férias, praia, monza preto, renaut clio, condomínio, festas, whisky, Pedro Flores, vôlei, cerveja, Júlia. Júlia, festas, meninas, Júlia. Júlia, Zeca Baleiro, Pedro, Camila, Los Hermanos, Felipe, Filipe, Reveillon, Los Hermanos, Morro da Urca, Raphael Nascimento, Sofia, Júlia. Vestibular, Diogenes, Sérgio, Marquinhos, Desirée, Thais, jornalismo, Rio. Júlia, Unirio, Uerj, LV, Gabriel, Guilherme, Manoel, Lucas, Reveillon, carnaval, Júlia, fotos, Júlia. [...])

Daí pra frente eu não sei.

segunda-feira, 16 de março de 2009

são muitos os momentos que me fazem sorrir.

pois parece que tudo conspira a favor do choro.

vamos à explicação...

vivo num enorme choro interior, as coisas não acontecem e triste permaneço.

nesse estado de lágrimas, qualquer pequena alegria me leva ao sorriso. são apenas pequenos sorrisos de lado, mas são muitos.

domingo, 15 de março de 2009

tem dias em que as coisas não acontecem. as respostas desmontam as perguntas. as atitudes não têm o efeito previsto. mas continuo pensando em seguir, apenas isso.

não consigo entender as pessoas. não mesmo.

algumas parecem gostar de sofrer. será que faço parte desse grupo? (silêncio)

sábado, 14 de março de 2009

sinto que a vida toma o rumo certo. torto, mas certo. triste e alegre. me vejo com uma serenidade que sempre foi ausente, e sem as certezas, sempre tão presentes. a semana foi boa, o fim de semana surge necessário para distrair e acalmar. resta agora aproveitar a dor e as saudades - do próximo e do longínquo.
não tinha um clima californiano, parisiense nem carioca. não tinha clima, era seco e sem vento. havia caminhões e ônibus, o tempo todo, por toda parte. era feio e sem graça, chovia de fazer os fios caírem. havia também uma estrada, que parecia levar a lugar nenhum. mas havia algo por ali que atraía, não sei quem, não sei por que, só sei que atraía.

não precisavam estar curtindo a califórnia, a culinária francesa, nem o mate carioca. do nada, por volta das seis da tarde começou a ventar, e o clima já na hora havia. os caminhões viraram assunto, os ônibus necessários e a chuva o motivo da permanência. mas a estrada continuava levando a lugar nenhum.

até porque quem estava ali não queria ir pra lugar algum, queria apenas estar ali, e aproveitar cada mísero minuto naquele apaixonante lugar insuportável.

segunda-feira, 9 de março de 2009

refazer os planos e seguir. isso é mais que necessário agora.

eu e felipe vamos construir nosso solar em Lumiar, com nossos discos, nossa poesia, nosso uísque e nossa cara. muito espaço para o descanso e para a vida, e nenhum pros problemas e preocupações.

vamos renovar, viajar e recordar, recordar muito, para sempre. porque hoje sou tudo aquilo que já vivi. e que amei tanto viver.

tudo ainda faz sentido, nada foi jogado fora. sou feliz por fazer parte de uma história maravilhosa de amor, amizade, cumplicidade... mas que, como todas as histórias, tem seu final e são eternas ao mesmo tempo.

(nunca quero esquecer o quanto é bom sonhar sem realizar)

sexta-feira, 6 de março de 2009

desperta, dor. desperta que tá na hora da prova.

que prova?

-Alô?

quarta-feira, 4 de março de 2009

saudades daquela menina de cabelos ondulados. que dorme no chão, não usa internet, nem telefone. cansei do celular dela e do seu orkut. quero a pureza de volta. o esquecimento que eu nem sei se ainda existe.

quis tanto ser lembrado que hoje necessito ser esquecido. mas não para sempre.

terça-feira, 3 de março de 2009

dois mil e oito termina quinta-feira. uma semana de descanso e começará dois mil e nove. meu ano de mudança passou, hoje me sinto estabilizado, sinto que criei laços, que vivi algumas histórias e deixei de viver outras. a partir de agora as preocupações são outras. já filtrei as pessoas que quero que sigam comigo, falta agora seguir.

dois mil e nove tende a realizar muitos sonhos meus e tenho muito medo de realizar meus sonhos. medo de parar de sonhar. conversava ontem mesmo isso com um amigo.

alguns saltos profissionais que não sei se quero assumir vão aparecer. outras pessoas vão aparecer, e as mudanças acontecem sem serem notadas. difícil mesmo é quando se nota.
que cansaço. quero uma rede bem grande. daquelas que dão voltas e que cobrem.

quero me cobrir, descansando.
como é bom saber que ainda se faz amigos. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos. com ou sem confidências, com ou sem histórias comuns. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos.

depois de um tempo a gente acha que os amigos estão feitos. puro engano. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos se fazem no dia, na noite, no trabalho, na faculdade. são feitos de nada, de graça.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ele sentia-se tão gostoso,
mas tão gostoso,
que se masturbava pensando em si.

De quatro.

domingo, 1 de março de 2009

o shampoo e eu

"Hoje me deu a maior vontade de beber shampoo. Apertei o vidro e cheguei a quase colocar a boca.

Na hora de sentir o gosto dele, desisti. Não pelo medo do gosto, e sim pelo medo dos arrotos posteriores, que carregariam o cheiro do shampoo para todos os lugares que eu fosse.

Um dia ainda me desprendo do medo dos arrotos e tomo litros de shampoo. Sozinho, pra sentir seu cheiro saindo de mim a todo instante.

Quando os arrotos passarem, vou ao banheiro e tomo mais um pouco de shampoo."
Carta codificada,
com um cado de carinho,
conspurcado, escondido.

Cubro com coisas que nem sei o que são.
Só pra o cado de carinho continuar calado.




(Bem aqui. Onde nada se diz. Onde nada se lê.)
Ahh, o que eu queria mesmo era morar na Siqueira Campos.

Me perder naquele mar de tudo.

Só pra ninguém perceber pra quem estou olhando.