sábado, 27 de março de 2010

prisão particular construída

o tempo passa e vamos criando certos receios infantis. eu antes chamava qualquer um com quem tinha trocado dez palavras de amigo. e se, por acaso, ele transformasse, eu logo chamava de inimigo e praguejava. dizia cem vezes "eu te amo" ao mês, e na mesma proporção eu odiava. era sistemático. eu não tinha medo das palavras, não julgava cada frase e gesto. e se não julgava os meus, muito menos fazia com os dos outros. inimigos ou amigos.

viver assim é ser livre. é ser livre.

mas é escorregando na liberdade que eu começo a me privar. talvez os jurados da minha vida tenham escorregado antes de mim e, por isso, me sentenciam. não foram livres, ou foram por pouco tempo. tiveram poucos "eu te amo", poucos amigos de dez minutos, poucas intolerâncias. e por isso são pobres. constroem o amor devagarinho, as amizades como castelos de cartas.

eu não. eu não era assim, quando livre. eu chorava e sorria ao mesmo tempo, depois gritava ajoelhado bonitas canções, e se ninguém olhasse pra mim, eu gritava ainda mais alto, até começar a xingar.

se ninguém entende, se ninguém se liberta dessa babaquice toda, sou eu mesmo que estou errado.

nada de "eu te amo" mais. nada de fazer amigos, me basto com os que tenho. me basto com os grandes amores que vivi. não grito mais, nem ajoelho, nem xingo. vou fazendo tudo bem devagar como o mundo quer, e já morro de medo de perguntar "como você vai?", porque daí pra frente vai ser tudo muito lento.

como todos vocês querem, amigos e amores em potencial. preso.

quarta-feira, 10 de março de 2010

branco

se é para escrever feliz, sinto que ainda sou patético. talvez por ser tão nova sensação, ou por ser realmente intraduzível.

prefiro acreditar na minha incompetência. e na felicidade.

domingo, 7 de março de 2010

feliz ano novo

o ano começando e eu carrego responsabilidades das quais sempre fugi. meu ano novo chegou com certo atraso, mas me prova que 2009 inteiro foi um grande reveillon, com fogos, confusões e champagne.

foi o ano da transição, em que me reservei o direito de errar quantas vezes fosse preciso até descobrir o que é certo. foi um tempo de esticar os elásticos, blefar até que ninguém ousasse pagar para ver. foi ano de metáforas e mais metáforas. das mais pobres às quase incompreensíveis. foi uma fase de reconhecimento, de entender que fazemos escolhas quando não imaginamos, e que quando estamos certo de que aquele é o momento, provavelmente ele não passa de um qualquer.

agora é hora de saber quais frases me fizeram este que sou hoje. consciente, completo e feliz.

segunda-feira, 1 de março de 2010

sobre as mortes

morremos algumas vezes por dia. eu acho que morri mais nos últimos. mas não faço parte da maioria que liga a morte a sentimentos ruins, a sensações desesperadoras. se morro, renasço. se permaneço vivo, sobrevivo aos traumas e eles sobrevivem em mim. prefiro-me morrendo, quantas vezes necessárias.

sobrevivi aos inimigos próximos, aos inimigos particulares que dormem em casa. sobrevivi às palavras de dor, às de falso perdão. sobrevivi às músicas ensurdecedoramente tristes, às alegre em meio a lágrimas. sobrevivi à minha vida, e às várias tentativas de suicídio.

sobrevivia pelo medo da morte. que é mais bela quando se morre ao acaso, como morri.

e renasci, assim, súbito, naquele olhar de parto que você me fixou até me ver nascer sorrindo.

novamente.

Pausa

Eu vou fazer uma pausa rápida com a série porque tive dificuldade para escrever sobre a próxima personagem. Beijos.