quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

feliz natal

quando criança o natal era a data mais feliz, eu acordava e ia abrir os inúmeros pacotes que dormiam sobre o sofá vinho. os jogos que sonhara durante todo o ano e que a partir daquele dia poderia começar a jogar. esperar uma semana, ir pra praia de copacabana ver os fogos na chuva e sorrir esperando um novo ano começar.

é natal mais uma vez, chega o dia de ressuscitar os problemas, reclamar da falta de dinheiro, receber os presentes que já não são tão coloridos. é o dia de sentar para tomar uísque com pessoas que não encontro desde o último vinte cinco de dezembro. e o natal passou a ser o dia de lembrar do ano, dos traumas, tombos, tragédias, das frases a serem mudadas, das curvas mal feitas. é o natal do sufoco, das trocas falsas de sorrisos no enorme apartamento. de perguntar pra mãe o que falar da pessoa que eu tirei no amigo oculto, a qual mal conheço. e agora a espera de uma semana é angustiante. não sonho com o próximo ano, sonho com esse pelo avesso. queria que o dia trinta e um me levasse ao primeiro dia de dois mil e nove.

que semana dolorosa! puta que pariu! nem sei mais pra quem ligar para desejar feliz natal. nem sei mais como é um feliz natal.

natal eu nunca soube bem o que era. mas feliz eu já fui.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

num lugar qualquer

vozes inaudíveis. ele caminhava em qualquer direção. não sabia ao certo por onde ir e pedia informações. os passantes passavam rapidamente. sinal vermelho. para. verde. anda. pra onde? pra frente. mais informações. parada pra tomar um café. outro. fumar cigarro de luvas é extremamente incômodo, mas é o jeito, não quer ver seus dedos roxos novamente. dois quarterões, três, quatro. informações. é por aqui? é, só seguir.

ele enxerga o portão, bate algumas palmas, grita. ninguém. será que é aqui mesmo? pergunta. campainha. ele vê seus olhos na janela, ela entra. espera. um dia, quatro cafés, dois graus. ele grita e perde a voz. ela já não era mais importante mesmo. ele deita, dorme, acorda com ela à sua frente. nua. no frio.

- que houve?
- nada.
- fala.
- nada.
- anda, fala logo.
- saudades.
- de que?
- de mim.
- como de você?
- é, de mim, desculpas, mas tive que aparecer, já estou indo.
- não quer entrar pra tomar um café?
- não é por você, mas não aguento mais café. até!

domingo, 20 de dezembro de 2009

abraços partidos

enquanto eu olhava as fotografias do nosso tempo, eu lembrava dos nossos sonhos, das nossas letras misturadas nos papéis sem validade, de você olhando pra mim com cara de quem quer mais nada. eu assisti a umas imagens desorganizadas das quais não éramos protagonistas, mas que aparecíamos rapidamente. e você me abraçava. simplesmente me abraçava e eu sorria. doeu em mim ver que eu era feliz entre seus braços. doeu em mim olhar para meus livros que você sonhava ler e deixou pra trás.

meus dias têm passado tão lentamente que me parece muito distante o dia em que te dei aquele primeiro presente. e ele hoje parece tão velho. o rosa desbotou. as costuras cederam. nós cedemos. largamos os abraços, os beijos, o sexo. cedemos às vontades que não eram nossas. paramos para pensar quando não era necessário. deixamos que as músicas se fossem, que os discos arranhassem, que as piadas perdessem a graça, que nós perdêssemos um ao outro. desejamos ser nossos sonhos que eram apenas sonhos. distantes. sozinhos.

mas as fotografias ficam, e aquele abraço eu nunca vou esquecer. porque ele ainda existe. desfocado, não nítido. mas feliz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

as vinte horas

foram vinte horas para retornar ao mundo. desliguei tudo. parei para tentar me enxergar de longe. saí de mim, larguei a vida, corri alucinadamente atrás de mim mesmo e acho que me encontrei. eu me conheço e sei por onde poderia estar. fui exatamente no ponto em que me vi pela última vez. não precisei de muito tempo. vinte horas de busca, de reencontros, de mudanças no caminho.

depois desse tempo eu pude fazer tudo. não precisei de tantas horas para fazer os trabalhos que antes insistiam em me demorar, não precisei porque eu nunca precisei. dessa vez fui cirúrgico ao recorrer à minha última lembrança do que era eu. e estou aqui. de novo. como deveria estar há tanto.

depois de vinte horas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

bela

uma surpresa por minuto. existe vida além do blog. existe. e ela é bela.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sobre o fim de dois mil e nove

aqui mesmo eu comecei o ano tentando fazer previsões. chutes no escuro sobre minha vida e sobre os rumos que ela tomaria. percebo que acertei mais que errei.

o solar ainda nos espera em Lumiar, talvez tenhamos mais sócios depois desse ano tão rico na apresentação de pessoas, mas nada que modifique as belas ideias que tivemos para o lugar. continuo com a impressão de que cada vez mais sou capaz de me transformar, de me adequar em razão da vida. continuo com medo de parar de sonhar, e hoje sonho com um dois mil e dez em outro lugar, com um outro sotaque, uma nova experiência. continuo filtrando gente, histórias, sentimentos. continuo errando mais que acertando quando filtro. mas continuo por aí, por aqui, continuo porque sempre o que resta é continuar.

agradeço novamente a meus amigos por proporcionarem minha maior felicidade em dois mil e nove: Danilo, Raphael, Pedro e Felipe.

agradeço aos novos também, pelas segundas, terças, e todos os outros dias: Rafaela, Clarissa, Fernanda, Renata e Victor.

aos que me aconselharam e me ouviram reclamar da sorte e da vida: Lucas e Manoel.

aos vizinhos que descobri: Mitian e Pedro Staite.

à minha família, sempre disposta a abdicar de tudo por mim.

a ela, que apesar de longe esteve sempre presente, em cada minuto desse ano, em cada letra desse blog.

e a vocês, que me aguentaram também e continuaram lendo todas essas bobagens.

quando o solar ficar pronto, estão todos convidados, e ai do Felipe se ele discordar.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vila Mimosa

podres putas,
pobres putas,
puto povo,
pedintes, passantes,
prisão perpétua.

postes parcos,
perto pontes,
poças, partos,
poeira, peões,
putas, putas
putas, putas,
paraíso perdido.

paus, pênis,
princesas, putas,
partidas, pixadas,

poesia paranóica,
pensamento pedante,
piadas, perguntas,
putas, piradas.

pó.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

sombras sobre sonhos são, sobretudo, sentimentos sadios.