quinta-feira, 30 de julho de 2009

eu queria me livrar dessa obrigação de ser a todo instante. queria ficar invisível por dias e conseguir caminhar em copacabana sem a pressão de ter um depois. desligar o telefone, o computador e viver os momentos com as pessoas que eu encontrar pelo caminho. queria todas as pessoas, assim como eu, despreocupadas com a morte, única certeza, despreocupadas com o amanhã, única dúvida, despreocupadas até com o outro, única dor. queria acordar de um sono leve, lembrar do sonho e sorrir durante o dia, sair de carro, ir ao cinema, comer fora, amar e sofrer.

queria você aqui corando minha pele pálida, meus olhos fundos, permeando com seu corpo cada centímetro de corpo meu, cada minuto da minha vida vã. queria ser você comigo, escolhido sabe-se lá por que motivo. queria o amor nas entrelinhas, nos espaços mais ínfimos dos nossos dias. queria amar ao me vestir, ao fazer a barba. queria isso tudo.

e eu sei que apesar de tudo, é pouco.

sábado, 25 de julho de 2009

sobre a pele o espaço deixado pelas marcas que não foram feitas. os arranhões, as ranhuras de unha. nada. nada disso. tudo se preenche pela ausência. mas é justo. valoriza.

tem vezes em que o sonho satisfaz mais que a realização. no sonho é tudo lindo. todos as marcas na pele existem. eu existo, você também.



até o celular tocar.

no bar

"o amor é a paixão que não deu certo.

a paixão é o amor sem hipocrisia."

porque depois de um bom bar só o que resta é paixão, com ou sem amor.

e foda-se o resto. o importante é buscar o amor na paixão. e a paixão no copo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

inexatidão

sei que às vezes parece que não falo sério. que minha vida é uma grande brincadeira sem graça. mas não. por trás de toda roupa, de todas as frases e risadas, há uma infinidade de meandros, de variantes que dependem dos seus sorrisos. palavras são palavras porque não podem ser calculadas. a poesia do diálogo está presente em cada fala nossa. não buscamos o resultado porque resultado é para quem quer resolver. não quero resolver, quero envolver.

certo que as decepções nunca foram meu forte. mas que não seja dessa vez que elas me sacrifiquem.

até onde nós podemos ir? de onde deveríamos partir? essas respostas, se forem dadas, retiram tudo aquilo que é mais bonito, mais colorido e vibrante. tudo aquilo que buscamos viver, em cada dia, em cada copo, em cada letra impensada.

queria responder com o tempo, com as cenas que ele nos proporciona. me deixa construir nosso tempo. marcado. finito. inexato.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

céu nublado em copacabana. os ônibus e as buzinas compõem a trilha sonora bruta do dia comum. pausa no mundo para a troca de olhares. ele sobe a siqueira, ela caminha pela barata. os sonhos casam sem trilha e sem céu. as vontades dispensam os papéis e, no tempo em que o sinal fecha, aquilo que todos buscam aconteceu para os dois.

a moça foi feita para ele. seus recortes e linhas disformes despertam nele o tal amor pelo momento. eles piscam, o momento vai. com ele o amor, as alianças, as promessas e os papéis. mas fica a saudade, não dela, nem dele. do Momento. aquele do sinal fechado em copacabana. ou aquele outro na noite mágica do leblon.

cada vez que piscam, esperam que aconteça mais um. mas não é por aí. acontece e pronto.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

deus, sei bem que um dia você existiu. fez a mim, fez de mim um filho que nasceu prematuro. confuso entre as idéias e caminhos que me propôs. decerto me quis incerto desde o princípio. duvidando das fotografias que surgiam pelas minhas retinas eu me lia assim: um alguém perdido no labirinto das possibilidades.

se não fosse por você eu não estaria aqui, deitado na cama a refletir e a chegar às conclusões que de fato vou rever amanhã. você existiu. eu sou a prova disso. ela também. ele também. todo o resto.

mas deixou de existir assim que optou por me conceder o livre arbítrio. você deixou de existir, deus. abriu os caminhos e morreu sem me indicar qual seguir. levantou as questões e foi embora sem respondê-las. esse papel agora cabe a mim, a ela e ele. você morreu, deus.

e não deixou sequer uma pista de como sair dessa vida com a certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance. que merda é essa de que posso escolher tudo que há de pior? que merda é essa? se era para ser assim, pela metade, por que me fez?

sábado, 11 de julho de 2009

vou cortar o cabelo, me vestir de sonho e esperar até que chegue a minha vez.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

carta extraviada

"assim que você puder fala só comigo. deixa as preocupações em casa e me dirige as atenções com exclusividade. guarda a mochila lá do lado de dentro e vem me ver sem culpa. avisa à sua mãe que vai chegar mais tarde, bem mais tarde que o mais tarde que ela está acostumada. diz ao seu pai que está indo morar comigo numa casinha no humaitá. eu já resolvi o que tinha para resolver, sei que às vezes te confundo com essa indecisão que transborda nas minhas palavras. mas isso agora passou. quero que esqueça nossa trilha sonora para que possamos construir outra sem lembrar daqueles maus momentos. pode comprar novos lençóis para marcarmos em lugares diferentes. agora eu sou sua mulher mesmo que você não queira mais. pode ser que seja tarde demais para para pegarmos o último trem, mas me sinto disposta para esperar o primeiro de amanhã. espero que receba bem essas letras que há tanto gostariam de preencher sua vida, é que de mim só transborda o que que há de pior, o melhor eu guardei para usarmos juntos no humaitá.

beijos com a saliva mais arrependida que já beijou a sua boca!"

terça-feira, 7 de julho de 2009

naquele, nesse e no outro

que graça que ela tem! moça bonita, tímida e educada. sem querer brinca com os cachos e passos de mistério. suas escolhas de palavras doces brindam no desespero. na ausência mais presente que se pode enxergar. ela refaz as cores, tira do preto o amargo, do branco a monotonia. linda nas roupas e nos gestos. nos olhares e nos excessos.

ela nega como espanta-se a dor. foi posta por Arriaga na minha vida.

mal sabe o quanto é flor, apesar dos espinhos. mal sabe ela, a moça que provoca o sorriso. que provocou naquele, nesse, e no outro tempo que ainda não fomos fortes para viver.

que venha com ela Iñarritu para nos dirigir. no amargo e no branco. nas cores e nos cachos.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

se ela tivesse aquela roupa ainda. se estivesse naquele ponto ainda. minha vida poderia ser um eterno ainda. mas não. não agora. não mais. tudo se dá e se vive sem que paremos para notar. o tempo é bruto e as mudanças são líquidas.

as novas belezas e texturas ainda brilham pouco se comparadas ao que antes havia.

os novos traços intrigam e satisfazem muito se comparados ao que antes se perdia.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

você me parece diferente à cada dia. nunca tinha reparado, mas até que você sabe ser gentil. à sua maneira, mas sabe. seus traços começam agora a rimar com meus sonhos. você tá tão bonito. faz tempo que nos vemos diariamente, e suas roupas nunca te serviram tão bem. suas palavras nunca me fizeram refletir antes do sono. parece que você escolhe aleatoriamente seus objetos de desejo. parece que você me escolheu dessa vez. logo eu que achava não chamar atenção. eu que nunca falava alto, nem pedia a palavra.

você sempre falou sem preocupar-se com o eco. logo agora quer ecoar em mim? nos meus anseios? você sabe sempre o que as pessoas querem ouvir, e mesmo assim nunca diz. é pra valorizar cada fonema? cada palavra?

porque se for por isso conseguiu. tudo que você premeditadamente escolhe me dizer ganha ressonância antes do meu sono. eu sorrio sozinha pra você. não posso sorrir na sua frente. não posso te dar esse gosto. senão você vai esquecer do meu sorriso e tentar arrancar o do lado.

sempre foi assim, mas comigo não. comigo não. enquanto puder, vou fingir não entender os elogios e piadas. vou guardar os dentes pra sorrir toda noite. até o dia que eu não resistir e te der mais esse prazer. mais um. um caro, mas apenas mais um.

um dia

hoje nós vamos sair. telefones desligados para que o mundo não nos encontre. coloca aquela roupa pra mim. vista-se de mim. de nós. vamos ouvir a música que eu escolher, no lugar que eu quiser. hoje é meu dia, meu amor. hoje é o meu dia. vamos ficar acordados à noite inteira. discutindo literatura e música. fumando marlboro azul. tomando mate ou uísque. vamos assistir futebol amanhã; vamos à livraria depois. hoje é o meu dia. amanhã também. depois também. todos os dias contigo serão meus dias. vamos tomar café, levantar, almoçar fora, vamos nos apaixonar em cada minuto de cada dia meu.

coloca os óculos que eu te dei. pára de olhar pro lado, pra trás, pra frente. olha pra mim. pra mim. porque hoje é o meu dia. entra no carro e deixa a música no meu volume. diz que me ama sem penas. só hoje. diz que não quer tirar os óculos nem ligar o telefone. diz que quer que as provas se fodam. que provas só se forem de amor. diz sim pra tudo. pra mim.

dorme comigo, mora comigo, casa comigo, xinga comigo, ama comigo. só hoje. porque hoje é meu dia.

elege um dia pra mim. um por semana, por mês, por década. um dia meu. um dia seu. um dia seu pra mim.


por favor.