só se é feliz idealizando a felicidade. o resto do tempo a gente desperdiça vivendo.
sábado, 30 de janeiro de 2010
iludindo
eu estou leve. sorrindo por causa das mentiras que eu invento para mim. a monografia entregue, o blog sendo lido por milhares de pessoas, o livro publicado, o amor do meu momento ao lado na cama, a voz dela no outro lado da linha a ouvir as novidades... eu saio da gávea, ela me espera num bar qualquer da zona sul, faz sol, eu acendo um cigarro, tiro os óculos e sento para tomar umas cervejas. a gente conversa sobre a semana, abre o jornal e decide a qual filme vai assistir. depois voltamos para casa, ou paramos novamente noutro bar, jantamos, amamos, e pronto. no dia seguinte eu vou trabalhar, ela também, e depois saímos para ouvir música em qualquer lugar que ainda toque música nessa cidade.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
leblon
o leblon é limpo demais. os rapazes usam claro, as moças colorido, a menina da novela come do seu lado, o mesmo sanduíche que você. gargalha alto, porque no leblon tudo pode quando nada acontece. ele não é falso como canta caetano. falsos somos nós, fantasia de nós mesmos ao ver a atriz tomando sorvete.
leblon é desfile, piso branco, é primavera. o bairro é virgem, sóbrio, dorme e acorda cedo. é um bairro que vai à escola, leva merendeira e não sua no pátio.
eu, que sou copacabana, nem me importo, vou lá, fantasiado, e depois volto para vestir preto e jantar em casa.
a dois
não havia um sorriso que ele não tivesse tentado, nenhuma palavra que ele não tivesse dito. ele tentou músicas, fotografias, fotografias que movimentam-se, tintas na parede, gritos, dizia que amava, mandava tomar no cu. ela se aproximava, parecia arriscar, mas recuava novamente. ela se perdia na quantidade de ações e posições que ele assumia, mas quando choravam juntos era catarse. quando trepavam também. só que havia vezes em que um trepava sozinho, enquanto o outro chorava. depois invertiam.
quando ela se acostumava com o sorriso de lado, ele mudava, prevendo errado. quando mudava o tom, ela já conseguia ouví-lo, e ensurdecia. quando passara a apreciar as paredes, chegava à casa e elas haviam mudado de cor.
e eles viveram assim por muito tempo. até o dia em que morreram.
tentando chorar e trepar em uníssono.
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
ao lado
eu te olho assim, de longe ou de perto, com as maçãs do rosto inchadas, vermelhas, de choro ou de riso. com essa pele infantilmente macia, que não carece de carinho. com esses olhos que piscam em câmara lenta, e refletem o mundo mais colorido. com essas mãos pequenas, quase sem unhas, que nunca pensaram arranhar ninguém.
eu vejo você, assim, a esperar por algo que lhe manche. por palavras boas ou más, ditas de forma precisa ou imprecisa. esperando pela resposta da pergunta que você nunca me fez. pelos conselhos de caminhos a seguir. pelos mapas, trilhos, e atalhos.
eu te vejo ver. te vejo ver o mundo através das tuas retinas de filtro, que tanto sonho em transplantar para mim. eu te enxergo, bela, a se perder no campo da vida. e a se encontrar repentinamente, quando chocada com ela à sua frente.
eu acompanho, próximo, o seu caminhar. o seu recolher de flores e o seu quebrar de espinhos. sinto contigo o cheiro das flores que você escolheu cheirar, a dor nos pés pelo calçado que você decidiu calçar, e as alegrias que você elegeu para lhe fazerem sorrir.
ainda assim, eu permaneço invisível para não te atrapalhar. receoso por querer, às vezes, modificar teu rumo tão singelo. eu jamais poderia intervir. não eu, que te persigo para aprender contigo cada detalhe de como é viver.
livre.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
eu não
eu não gosto de piercing, tatuagem, alargador. não tenho paciência pra halteres, micareta, cordão, terra batida. odeio rave, bala, doce, eletrônico, horas passando e luzes piscando. enjoo com santo, benção, reza, deus. me irrito assistindo ao fantástico, lendo a veja, saindo pra almoçar no domingo, levando o cachorro pra passear. detesto maconha, maconheiros, reggae, dread, artesanato, pulseiras pra usar no pulso do pé e pra usar no pulso do braço. desconsidero paulo coelho, crepúsculo, cury e surfistinha. cuspo na madonna, no cadáver do michael jackson, no novo de sobrenome timberlake, na nova spears. sonho calar a ana carolina, o jorge vercilo, a roberta sá, e todas as mulheres que cantam iguais umas às outras. xingo o lula, o serra, a marina e a oposição de cada um que é o outro. não quero ver as atualizações do orkut, ser popular no twitter, ter dez mil no facebook. não quero dar dez num dia, bater recorde, punheta, ou panela. não quero que briguem comigo por causa disso ou daquilo. não quero brigar, não quero discutir, não quero argumentar. não sei, não posso, não devo, não faço.
eu gosto do que é limpo, do rock, do anticristo, do cinema, urbano, de literatura, de mais rock, de menos monopolítica, de saber do importante, de ser amigos dos bons, de dar uma boa. de ser, viver, viver, até morrer.
eu quero só você, aqui, comigo, vendo filme enquanto o mundo cai sobre e abaixo de nós. porque ele já acabou mesmo e nós sobramos.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
nos nossos lugares
olha dessa janela aqui, fica tudo bem mais claro.
assim nós continuamos brincando de não ver a verdade, defendendo indiscriminadamente o que julgamos justo pelo "x" que ocupamos. quando, na verdade, somos dois.
cegos de tanto ver.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
exercício de descrição #1
república do peru, esquina com nossa senhora de copacabana. galeto. é o dono do restaurante, um frequentador assíduo ou alguém de quem eles cuidam. ele amedronta. seus poucos cabelos brancos contrastam com sua sobrancelha preta. preta mesmo, muito preta. e o cabelo é branco, branco mesmo. ele contrai a face, mastiga um palito de dentes, cospe e pega outro. fala qualquer coisa com um dos garçons em espanhol - donos de restaurantes costumam ser espanhóis em copacabana - e fecha os olhos. logo desperta e gesticula muito com os braços enquanto resmunga. levanta da cadeira vermelha de plástico, entra no restaurante e volta minutos depois, para a mesma posição, mastigando o mesmo palito, ou outro, não sei. não faço ideia se o bar é dele, mas cobra seis reais numa garrafa de cerveja quente. talvez daí o mau humor, daí a face contraída e os poucos cabelos. ele abre os botões da camisa, estica as pernas -não há mesa à sua frente -, e dorme enquanto almoço. definitivamente não volto ali. jamais. foi uma sensação de depressão adquirida. roubei o passado, as frustrações, os revides, as porradas que aquele homem levou da vida, e sequer sei o seu nome. engoli a comida rapidamente e voltei para casa pensando...
ele, se for o dono, espanta os próprios fregueses. se for um frequentador, não vale tanto à pena. e se for alguém de quem eles cuidam, precisa de mais cuidado.
da antologia: gente estranha que mal me acompanha
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
feriado, prolongue-se
janeiro promete ser um bom mês. festas, férias, é fim de ano pra quem estuda na minha universidade. janeiro vem como prelúdio de um ano bom. é o meu ano dos consertos, de recolocar a vida no eixo para poder aproveitá-la. o feriado foi ótimo, consegui reunir as pessoas que mais tenho gostado nos últimos tempos e até incluir outras nesse grupo que eu teimo em não deixar crescer. se o reveillon for a ilustração do ano, ele tende a ser são. como já foram tantos outros. com tantos outros. de tantos outros.
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