quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

feliz natal

quando criança o natal era a data mais feliz, eu acordava e ia abrir os inúmeros pacotes que dormiam sobre o sofá vinho. os jogos que sonhara durante todo o ano e que a partir daquele dia poderia começar a jogar. esperar uma semana, ir pra praia de copacabana ver os fogos na chuva e sorrir esperando um novo ano começar.

é natal mais uma vez, chega o dia de ressuscitar os problemas, reclamar da falta de dinheiro, receber os presentes que já não são tão coloridos. é o dia de sentar para tomar uísque com pessoas que não encontro desde o último vinte cinco de dezembro. e o natal passou a ser o dia de lembrar do ano, dos traumas, tombos, tragédias, das frases a serem mudadas, das curvas mal feitas. é o natal do sufoco, das trocas falsas de sorrisos no enorme apartamento. de perguntar pra mãe o que falar da pessoa que eu tirei no amigo oculto, a qual mal conheço. e agora a espera de uma semana é angustiante. não sonho com o próximo ano, sonho com esse pelo avesso. queria que o dia trinta e um me levasse ao primeiro dia de dois mil e nove.

que semana dolorosa! puta que pariu! nem sei mais pra quem ligar para desejar feliz natal. nem sei mais como é um feliz natal.

natal eu nunca soube bem o que era. mas feliz eu já fui.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

num lugar qualquer

vozes inaudíveis. ele caminhava em qualquer direção. não sabia ao certo por onde ir e pedia informações. os passantes passavam rapidamente. sinal vermelho. para. verde. anda. pra onde? pra frente. mais informações. parada pra tomar um café. outro. fumar cigarro de luvas é extremamente incômodo, mas é o jeito, não quer ver seus dedos roxos novamente. dois quarterões, três, quatro. informações. é por aqui? é, só seguir.

ele enxerga o portão, bate algumas palmas, grita. ninguém. será que é aqui mesmo? pergunta. campainha. ele vê seus olhos na janela, ela entra. espera. um dia, quatro cafés, dois graus. ele grita e perde a voz. ela já não era mais importante mesmo. ele deita, dorme, acorda com ela à sua frente. nua. no frio.

- que houve?
- nada.
- fala.
- nada.
- anda, fala logo.
- saudades.
- de que?
- de mim.
- como de você?
- é, de mim, desculpas, mas tive que aparecer, já estou indo.
- não quer entrar pra tomar um café?
- não é por você, mas não aguento mais café. até!

domingo, 20 de dezembro de 2009

abraços partidos

enquanto eu olhava as fotografias do nosso tempo, eu lembrava dos nossos sonhos, das nossas letras misturadas nos papéis sem validade, de você olhando pra mim com cara de quem quer mais nada. eu assisti a umas imagens desorganizadas das quais não éramos protagonistas, mas que aparecíamos rapidamente. e você me abraçava. simplesmente me abraçava e eu sorria. doeu em mim ver que eu era feliz entre seus braços. doeu em mim olhar para meus livros que você sonhava ler e deixou pra trás.

meus dias têm passado tão lentamente que me parece muito distante o dia em que te dei aquele primeiro presente. e ele hoje parece tão velho. o rosa desbotou. as costuras cederam. nós cedemos. largamos os abraços, os beijos, o sexo. cedemos às vontades que não eram nossas. paramos para pensar quando não era necessário. deixamos que as músicas se fossem, que os discos arranhassem, que as piadas perdessem a graça, que nós perdêssemos um ao outro. desejamos ser nossos sonhos que eram apenas sonhos. distantes. sozinhos.

mas as fotografias ficam, e aquele abraço eu nunca vou esquecer. porque ele ainda existe. desfocado, não nítido. mas feliz.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

as vinte horas

foram vinte horas para retornar ao mundo. desliguei tudo. parei para tentar me enxergar de longe. saí de mim, larguei a vida, corri alucinadamente atrás de mim mesmo e acho que me encontrei. eu me conheço e sei por onde poderia estar. fui exatamente no ponto em que me vi pela última vez. não precisei de muito tempo. vinte horas de busca, de reencontros, de mudanças no caminho.

depois desse tempo eu pude fazer tudo. não precisei de tantas horas para fazer os trabalhos que antes insistiam em me demorar, não precisei porque eu nunca precisei. dessa vez fui cirúrgico ao recorrer à minha última lembrança do que era eu. e estou aqui. de novo. como deveria estar há tanto.

depois de vinte horas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

bela

uma surpresa por minuto. existe vida além do blog. existe. e ela é bela.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

sobre o fim de dois mil e nove

aqui mesmo eu comecei o ano tentando fazer previsões. chutes no escuro sobre minha vida e sobre os rumos que ela tomaria. percebo que acertei mais que errei.

o solar ainda nos espera em Lumiar, talvez tenhamos mais sócios depois desse ano tão rico na apresentação de pessoas, mas nada que modifique as belas ideias que tivemos para o lugar. continuo com a impressão de que cada vez mais sou capaz de me transformar, de me adequar em razão da vida. continuo com medo de parar de sonhar, e hoje sonho com um dois mil e dez em outro lugar, com um outro sotaque, uma nova experiência. continuo filtrando gente, histórias, sentimentos. continuo errando mais que acertando quando filtro. mas continuo por aí, por aqui, continuo porque sempre o que resta é continuar.

agradeço novamente a meus amigos por proporcionarem minha maior felicidade em dois mil e nove: Danilo, Raphael, Pedro e Felipe.

agradeço aos novos também, pelas segundas, terças, e todos os outros dias: Rafaela, Clarissa, Fernanda, Renata e Victor.

aos que me aconselharam e me ouviram reclamar da sorte e da vida: Lucas e Manoel.

aos vizinhos que descobri: Mitian e Pedro Staite.

à minha família, sempre disposta a abdicar de tudo por mim.

a ela, que apesar de longe esteve sempre presente, em cada minuto desse ano, em cada letra desse blog.

e a vocês, que me aguentaram também e continuaram lendo todas essas bobagens.

quando o solar ficar pronto, estão todos convidados, e ai do Felipe se ele discordar.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vila Mimosa

podres putas,
pobres putas,
puto povo,
pedintes, passantes,
prisão perpétua.

postes parcos,
perto pontes,
poças, partos,
poeira, peões,
putas, putas
putas, putas,
paraíso perdido.

paus, pênis,
princesas, putas,
partidas, pixadas,

poesia paranóica,
pensamento pedante,
piadas, perguntas,
putas, piradas.

pó.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

sombras sobre sonhos são, sobretudo, sentimentos sadios.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

30.11

nasceu sem pedir licença, sem que a bolsa estourasse, sem contrações nem avisos prévios. nasceu sem gestação, sem desejos, sem enjoos, sem coito, sem nada. nasceu sem rosto, sem pernas, sem olhos, sem boca, sem sentidos. nasceu em mim assim, desprezando choro, sangue e parto, veio do tudo, do lógico, da consequência. veio até mim de repente, de surpresa.

a morte nasceu pra mim em mim. a morte de uma das partes mais bonitas que eu construí. ela veio em forma de texto, de letras construídas para me destruir, de palavras sequenciadas visando ao meu desespero. mas eu já morri, não desespero mais, não sangro mais, não vivo. esse é o maior defeito da morte, ela nasce quando a vida acaba, não enxerga seu estrago, não ri da sua tragédia. a morte morre com o morto, no caso, morreu comigo.

mas a vida vive, e aproveita enquanto ela vive, porque um dia a morte nasce como em mim nasceu. e apaga tudo.

que vivemos juntos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

à minha professora de português

acordou antes mesmo de dormir. inquieto sem aquele pensamento pré-sono. só pensava em como não tinha nada para pensar. que vida, cara. que vida é essa desse rapaz que não tem no que pensar? que vai escrever qualquer merda às cinco da manhã. que rapaz é esse que enxergo em mim, deitado naquela cama? que texto em terceira pessoa é esse em que a terceira pessoa sou eu?

fiquei confuso. acordar antes de dormir não é poesia, é circunstância. é porque eu desliguei tudo, tirei o disco, fui dormir e acordei revoltado com a minha falta de imaginação. é porque eu não tenho no que pensar pra dormir e então fico acordado. ou ele fica, sei lá. ficamos, eu e ele acordados nesse apartamento minúsculo onde eu tenho que dividir os cômodos com ele. e ele me irrita, não tem assunto, inventa musas, não tem desejos. cara babaca! completo consigo e eu aqui procurando qualquer coisa para me completar. enquanto busco um pensamento pra dormir, ele cria sofrimento pra sofrer. baita confusão minha comigo! escrever a essa hora dá nisso, texto mal calculado, mal escrito, confusão de personagens onde só há um. confuso, é verdade, mas só um.

acho que tô fugindo do estilo do blog, mas eu preciso fazer alguma coisa pra mudar. tá ficando meio chato isso de sofrer o tempo todo pelo mesmo motivo. queria ser mais livre pra escrever nesse espaço aqui, afinal ele é meu!

não, ele não é mais meu. é dele. daquele que sofre e é completo ao mesmo tempo, que é só e mal acompanhado, que trata o amor como cigarro, que sonha com um vestido, etc. o espaço é do personagem que eu criei pra mim sem saber, e que já fez até epitáfio pra si mesmo. que macabro! quanta tristeza! não sou tão triste assim, mas ele é e acha bonito ser. deixa o camarada sofrer as dores dele, não confunda com as minhas. ou até confunda porque elas se confundem mesmo, mas o Thiago não é tão caído assim, não mesmo, ele até usa "caído" numa frase. gíria, coisa pobre. ainda ouve samba, ainda faz piada, bebe cerveja com os amigos, ama e sofre. sem "quimeras" - odiei usar essa palavra no último texto, pedante demais. o Thiago sofre com o Fluminense, ahh com isso ele sofre, ainda mais em 2009. o brilho no olhar que foi lembrado pode até não existir mais, mas o resto tá por aí: o bigode, o chapéu, as sandálias - que não sejam da humildade -, as ambições. tá tudo aí misturado com esse babaca que só usa letras minúsculas. nem sei por que usei agora, mas vai dar trabalho mudar tudo, é mais um dos vícios que adquiri e que não consigo remediar.

nossa, escrevi tanto que nem sei mais do que eu tava falando. acho que era da falta de pensamento antes de dormir. agora vou deitar e pensar no que a senhora vai achar de tudo isso aqui. epifania? foi você que me ensinou o que era. será que cabe? sei lá, decerto que era mais fácil fazer as suas provas que carregar comigo um personagem que por tudo sofre e de tudo ama.

inconveniência

somos matéria de nossos sonhos, somos seus criadores, podemos e devemos produzí-los.

eu sonhei por nós dois. acordei quando você fugia dos diálogos com frases desconexas que não faziam parte das minha ideias quiméricas. quando você disse que não queria mais, que preferia fazer um outro feliz, nesse ou noutro tempo. acordei pra cortar e mandar repetir. você errou o texto, meu bem, ainda não era hora de falar isso. você maculou minha fantasia, cagou nas minhas frases feitas. você poluiu as minhas cenas, perturbou a estética maravilhosa que eu tinha produzido. desconfiou do meu roteiro, do meu talento para nos criar felizes, da minha capacidade inventiva. você duvidou de mim. das linhas que eu tracei para nossos próximos dias e meses. dos cenários que eu escolhi, da roupagem que eu dei. que eu lhe dei a você. a mim. você não deu crédito ao meu trabalho e quis impor seu nome nos créditos. quis assinar um sonho que era meu e que você estragou por não sonhar comigo. você é uma estúpida por jogar tudo fora, por improvisar onde não havia improviso. por sentir-se livre onde não havia liberdade. havia um sonho a ser vivido, havia uma vida a ser sonhada. mas você não quis, você não se permitiu viver sonhando, nem me permitiu sonhar com a vida.

você acabou com um romance lindo que eu tinha feito só porque eu tinha te refeito. e saiba: a minha você era bem melhor que a real. eu tinha lhe descrito muito melhor do que é na verdade. você não se deixou ser melhor, não foi capaz de enxergar a beleza que eu te acrescentei.

acabou com o romance porque você tinha sido apenas minha matéria, e isso de ser matéria nunca lhe foi o bastante, prepotente destruidora de fantasias.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

é que pra escrever preciso passar mal. preciso sofrer das piores doenças, estar de mal com o mundo e querer gritar. eu não grito, eu rabisco. eu não choro lágrimas, mas palavras sujas, borradas de maquiagem preta. e elas descem pelo papel feito aqueles brinquedos que reaproveitam a água. eu choro as mesmas palavras faz tempo e me sinto repetitivo na invariabilidade da minha dor. queria fazer as pazes com as minhas lembranças, sair daqui e ir visitá-las, mas sou pequeno demais para tanto. prefiro ficar. com os papéis, lágrimas e teclas. escondendo-me na maquiagem decadente.

me falta coragem pra ouvir as músicas que eu ouvia, assistir aos filmes que assistia, andar pelas ruas onde andava, com as roupas que eu vestia. quando eu ainda era pobre o suficiente para saber ser feliz. ou quando eu ainda era bom a ponto de fazer alguém feliz. me falta coragem para lembrar de tudo, dos cheiros, dos gritos que ainda podia gritar, das lágrimas que ainda podia chorar, dos sonhos que podia sonhar.

e me falta vontade.

de esquecer.

sábado, 21 de novembro de 2009

- pra água!
- quê?
- vamos pra água, o sol tá nascendo.
- ele nasce todo dia assim, sozinho.
- então hoje é o nosso dia, ele nasce para nós.
- eu tô sem roupa.
- eu também.

epifania.

mergulhos de felicidade. quatro adolescentes prepotentes testemunharam o fato mais comum do mundo. alegres.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

difícil definir meus dias não lineares. os flashes de saudade e tristeza são involuntários, ao contrário das risadas que eu insisto em dar quando estou na companhia das pessoas que gosto. estou exercitando a felicidade, como quem aprende a guiar um carro, ou como uma criança que ensaia os primeiros passos.

eu tenho fantasiado reações, inventado diálogos, interpretado livremente as ausências. tenho sido um teatro itinerante, do tipo mais pobre que existe, de rua, comédia suja. tenho acreditado nas minhas fantasias de gente sem perspectiva, no meu falso poder de ser melhor sempre. tenho criado desculpas para minhas frustrações e motivos para minha incompetente esperança.

dois mil e nove pode ter sido o pior ou o melhor ano da minha vida, mas o veredicto só os próximos podem me dar. certo é que não foi fácil.

domingo, 8 de novembro de 2009

pontuando

a vida me dificulta a escrever nesse momento. os papéis de literatura ausente atormentam minhas noites e meus dias. a caixa de correio lotada de contas e fracassos. virtuais e reais. ainda busco uma justificativa poética para a ausência de sucesso no amor. talvez sejam esses pontos que eu cismo colocar no lugar das vírgulas - metáfora.

eu adoro os pontos. as marcações de tempo que eles causam. mas acho que os banalizei. em um linha distribuo três. quatro. cinco. e assim me perco. não sei quanto duram meus períodos, meus ciclos, minha paciência. a dificuldade de me livrar dos pontos é talvez o resumo da minha vida. recortada. com tantas pausas, hiatos e voltas eu engasgo, entendo sozinho aquilo que escrevo, porque os pontos são meus e só eu sei o quanto é difícil retirá-los daqui ou dali.

minha vontade é simplificar, não abrir as caixas de correio, não preencher formulários que me buscam formular, não me submeter a amar, nem inventar programas para os próximos anos, não frustrar a mim e aos outros, não assistir a documentários, nem colocar pontos assassinos de períodos. morreu.

porque eu, meu pontos e minhas contas morremos e nascemos três, quatro, cinco vezes por linha.

Aos leitores

Depois de conversar com uns amigos, ouvir argumentos a favor e expor argumentos contrários, decidi abrir o blog para comentários por tempo indeterminado. Gostaria que vocês buscassem comentar não só os novos textos, nem só os que vocês gostam. Quero, na verdade, entender que faz vocês perderem o tempo aqui.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

do meu lado

comigo sempre foi assim,
o telefone toca e a vida muda.

de lado,
e de lado vou enfrentando as ligações,
os telefonemas
e o corte das linhas.

meus amigos sabem disso,
riem da minha cara,
de frente,
enquanto sorrio,
de lado,
enquanto choro,
de costas.

meus amores sabem,
que eu amo de lado,
ao lado,
distante.

os outros que eu pensava amigos mentem,
de cara, em volume baixo,
de costas,
para os meus amores,
que amavam de frente, de lado e de costas.

agora eu brinco nas palavras
fingindo não saber de que lado estou,
eu minto querer desvendar meus mistérios,
minhas soluções,
e venho pela poesia dizer aquilo
que não consigo explicar no bar.

enfeito,
recorto,
fantasio os defeitos,
a mostrar que me importo
com a rima da estrofe,
com os dados do agora,
com os lados,

de dentro e de fora.

domingo, 25 de outubro de 2009

quinta

eu vi duas mulheres se estapeando na porta do meu apartamento. elas xingavam loucamente. mãe e filha, batiam-se. a mãe fingia a idade e o sexo, contou-me a outra vizinha. travesti. pai. travesti pai que gritava como mãe com a filha que não o aceitava. era a síntese de Copacabana.

- toma um rivotril?
- enfia essa porra no cu!

desisti de acalmar a moça.

- eu sou sua mãe, sua vagabunda!
- só mulher pode ser mãe.

eu, assustado, entrei. mas saí novamente. era almodóvar demais pra uma madrugada de quinta. e a velhinha me gritava. separa, separa as duas, elas vão se matar! e eu separei, meti a mão no silicone do braço, do rosto, do peito. separei mãe e filha. pai e filha. ou filho. e ela, filha, pegou uma mala e voltou pra minas, voltou a fingir ser órfã. buscou o dinheiro com a mãe/pai e voltou para minas. exatamente desse jeito: dinheiro, socos, gritos e mala cheia.

de tristeza.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

eu cantava no carro, fazia as curvas, corria as retas, tudo cantando. tudo pelo canto. e foi pelo canto que vi minha retina ser estuprada pela imagem que sempre me fizera amar. ela estava à minha frente de novo; no mesmo cenário de sempre, linda como de costume. aquela mistura de cores e sentimentos. dores e esperança. eu esperei um sorriso depois de buzinar. em vão, obviamente.

mas de qualquer forma, ela continua sabendo me tornar à vida. pela dor ou pelos beijos. me sinto vivo. sinto. sinto que importa sentir. mas não sei mais se faz sentido. isso de sentido nunca foi meu forte. meu fluxo tem movimento não-linear; variado. é lento e rápido. forte e fraco. mas independente da postura que ele assuma, quem manda e sempre mandou nele foi ela.

que me fez parar. olhar. refletir. e viver assim, torto.

domingo, 4 de outubro de 2009

sobre o fim de semana

uma praça bem à minha frente. varanda. pessoas. pessoas. as melhores e as outras. as melhores pessoas estavam comigo naquela varanda pintada de malte. as melhores palavras e luzes. os melhores escuros, sorrisos, temperaturas. as melhores histórias. eu agradecia. uma, duas, três vezes. eu agradecia porque não merecia, eu não merecia estar ali. o leblon é bom demais para ouvir nossas conversas.

eu precisava daquilo. daqueles. eu era tudo que queria de novo. era whisky. eu era a melhor pessoa que descobri em mim. meus afetos, meus desejos, minhas texturas, meus sorrisos, eles me contruíam, me construíram. eu fui feito por eles, sou cria, sou eles nos meus gestos.

eu passo mal. cabeça doída. tristeza na voz. nos olhares escondidos por meses de afastamento.

eles sabiam disso e vieram me tratar. trouxeram a minha vida à minha vida. os meus melhores rodeios, meus melhores sentimentos. aquilo que um dia eu fui e que posso voltar a ser. eles trouxeram. de volta. numa volta pela capital. numa visita. eles trouxeram com eles, pra mim, tudo que eu precisava.

obrigado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

"quantas vidas viveremos nós? quantas vezes morremos? dizem que perdemos 21 gramas no exato momento da morte. todos nós. e que caberá em 21 gramas? quanto é perdido? quando perdemos os 21 gramas, quanto se perde com eles? quanto se ganha? vinte e um gramas... o peso de cinco moedinhas. o peso de uma barra de chocolate. quanto pesa 21 gramas? quanto pesa o peso de 21 gramas?"

você ligou

quis saber sobre as drogas, de onde vim,
perguntou se havia sombras da partida,
viciada nelas você desligou viciada em mim,
enquanto eu sonhava e me viciava na vida.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

ele não tem orgulho. desistiu dessa babaquice que lhe foi imposta por todo o resto. ele se ajoelha. chora. ele aceita as mais humilhantes situações. e sorri. ele sorri por não ter orgulho. ele constrói castelos, compra casas, carros, vinhos, a vida, ele faz poemas, músicas, cinema, ele vive por todas elas.

decidiu que não tinha mais orgulho. que viveria sem jogar, entregando-se a cada dia a um novo amor, inteiro. ele faria jantares maravilhosos, em espaços pouco comuns, à luz de velas. ele faria tudo que estava ao seu alcance, seria pisado, daria a cara a tapa! daria sim. ele não tinha vergonha mais por si. chorava na frente delas, abaixava a cabeça, dizia que amava com dez minutos de conversa. espantava quem se aproximava porque resolvera ser assim. completo.

- caralho, cara, você não tem orgulho não?

- meu amor, vivi mais de vinte anos e não tenho do que me orgulhar. me deixa, orgulho é o único sentimento que eu não mereço ter. nos outros eu ainda acredito, mas por enquanto, orgulho não.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

sono leve

ela estava toda arrumada. e eu pouco humilde achei que era para mim. um dia haveria de ser para mim, e era aquele. era aquilo que eu sonhava. aquele vestido. eu vestido para aquele vestido. de barba feita e entregue ao sonho. até a luz era fria naquela noite, e eu que já esquecera como ser quente suava sem saber se as frases e gestos eram para mim.

as frases e os gestos eu não sei, mas o vestido era. era o vestido. vestida de sonho. exato. igual ao sonho. e ela falava por entre as palavras, pelo menos para mim. ela gritava por entre as frases sem sentido. eu não acreditava. olhava para as minhas mãos de cigarro filtro amarelo e pensava. era um sonho. ela ria para mim. ou de mim. mas ria, ria, e eu parado, olhando para o vestido. sonhando.

eu amava. por instantes eu amava. era poesia concreta à minha frente, era a dúvida do quanto duraria. eu engolia o momento sem saliva. engolia aquele momento seco. era frio e seco e eu não queria outra coisa. não queria ninguém além daquela que estava no vestido. o vestido do sonho. queria só vestir-me de sonho e sonhar, viver o sonho ali, entre as palavras e as mãos.

eu vivi. eu vivi meu sonho. eu vivi com o vestido o meu sonho. eu casei. casei e cansei. do sonho que desbotou.

sábado, 19 de setembro de 2009

voltando #2

ela vive mais rápido que o amigo de olhos azuis. não entendo como atingiu esse nível, mas eu sei que atingiu. e, enquanto isso, eu, devagar, quase parado, quero o intervalo, a vírgula, o ponto. final. no alto da embriaguez factual, ela mente coisas rápidas, frases juntas, mente para si mesma tão rápido que seu cérebro não consegue detectar a mentira. e eu, sempre lento. sentindo cada mentira corroer meus dias e minhas noites, bem devagar, numa lentidão que beira a tortura.

será que ela não pensa em morrer? ou pensa demais? o tempo é efêmero para ela por que? e por que o meu é tão depois?

lentamente me encaminho para a morte, enquanto ela corre assustadoramente para a vida. sozinha.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

imprimindo

nunca escrevi às sete da manhã. não depois de dormir. a vida muda em mim. como os desejos que só eram literais depois das dez.

domingo, 13 de setembro de 2009

eu vi uma coisa estranha. nem sei se vi, ouvi, toquei. sei que senti, senti uma coisa estranha.

era o contrário de um deja vu. eu vivia as coisas depois que elas deviam - mereciam - acontecer. e eu vivia mesmo. eu me belisquei. eu fechei e abri os olhos. eu vivia. depois. agora. depois. agora depois. e tudo acontecia tarde demais. os diálogos eram magníficos pois tinham fim antes do começo, nunca havia vivido algo parecido. já estava em casa e continuava voltando. como esconder o futuro de alguém que já o vive?

frase de efeito. volta à realidade. ao tempo dos homens.

pânico. eu vivo agora o presente no presente. logo eu que adorava aquela dança sobre a linha. eu que tinha certeza do que ia acontecer sempre, vejo-me agora dando um passo antes do próximo, e do outro, e caminho. só e mal acompanhado.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

voltando #1

tem um homem de longos cabelos brancos na minha porta. homem de cabelos brancos e a porta. e a cadeira. e o tempo. longo. o homem de tempo e cabelos longos. parado, todo dia, na minha porta. e bebe. e bebe. e cumprimenta. e senta. cadeira. amarela.

tem um amigo. um amigo próximo de cabelos amarelos e olhos azuis. olhos azuis como os do homem de cabelos longos brancos. mas amarelo parece mais amigo. amigo de tempo pulsante. de tempo passando.

amarelo e branco. ajoelhados. na porta. na minha.

ajoelhados. amarelo e branco. e o tempo. e eu, de pé, vendo, tempo passado. tempo passando. tempo que passa devagar, a . de ainda, não, transformar, amarelo, em, branco. emesmoqueotempopasserápido, o azul é e será azul.

sobre aquela festa

subsolo. ela grita e xinga como se as palavras fossem só dela mesmo depois de saírem de sua boca. luz perfeita na escada, revide. os outros passam, reparam, pedem para que ele volte e continue a sorrir. ele sabe que vai voltar, mas vive a discussão até o último ponto. a noite era linda demais, os corações naquela hora já haviam estourado, e ele sentia que a cada frase estourava um deles.

subiu as escadas com a certeza de que falara tudo que estava engasgado, voltou para viver as músicas e o amor. naquele dia sabia que a festa iria vivê-lo, que ele não tinha nenhuma responsabilidade sobre seus passos e beijos. do lado de fora, a vida desmoronava, e as incertezas quanto ao futuro maximizavam-se. como se quisessem o futuro antes do presente, o dia seguinte doeu e dói até hoje.

naquela escada perfeitamente iluminada, os dois descobriram, de maneiras distintas, que o mundo é pequeno demais quando vive-se pelo depois.


abatimento no andar, no copo e na luz.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

fantasiando

pareciam nunca ter-se visto. mas era mentira, sempre notaram-se, e as vontades de um chocavam-se com as metáforas complexas do outro. um era amargo demais e por isso não suportava o açucar alheio. no começo eles eram assim, duas pessoas comuns que buscavam, como quaisquer pessoas comuns, alguém comum. mas havia ali uma fuga circular, não podiam admitir os desejos que passaram a permear suas noites - e desejos rimam com álcool e só são literais depois das dez.

- acho que toda essa sua segurança é uma fantasia mal acabada.
- somos sempre mal acabados, viver é acabar-se aos poucos.

e assim eles trocavam farpas e começavam a trocar sorrisos no leblon. e palavras. e beijos. as metáforam misturaram-se com as verdades, e com os desejos e com a ironia . e com os dias.

foi que se foram esses dias, os meses e os anos. foram. e teriam sido com qualquer um.

foram porque queriam, queriam porque não eram. nunca haviam buscado ser nada , só queriam quando estavam. e morreram, porque passaram a ser, juntos, uma coisa qualquer muito bem acabada.

lost in translation

e foi assim. dias e dias no japão para conseguir o que queria pouco antes dos créditos.

- mas eu não entendi o filme.
- não tem o que entender no filme. ele é isso. cru assim. nada surpreendente, como a vida.
- eu achei surpreendente já que eles enrolaram tanto.
- mas não foi.
- me explica por que não foi, então?
- é que se não fosse nesse filme, aconteceria no próximo, a sofia não os deixaria sem destino.
- olhando por esse lado...
- e não foi por esse que você olhou?
- não.
- então olhou errado. agora, olha pra mim que a gente continua.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

as horas de sono

- para quieto, pelo amor de deus!
- ahn?
- não aguento mais você gravitando na minha frente.
- não aguenta o que?
- você tem quantas metades, querido?
- tô descobrindo ainda, mas você é uma delas.
- hahahaha! você sempre escapa das perguntas com sua metade mais canalha.
- pra mim metades são só duas, mas outro dia eu deixo você explicar sua teoria, tô morrendo de sono.
- boa noite!
- boa noite, meu amor, dorme bem.



café na cama

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

plasticidade

ela sabe me trazer pro mundo. me enfartar e me tornar à vida. ela é especial e quando venta sinto seu cheiro. meu pau endurece ao pensar no que somos capazes de fazer sem o plástico. látex que me permite entrar e sair sem que haja o toque e que nunca bastou pra nós.

somos tato. mucosa na mucosa. é pau dentro e ela nem ousa pedir para que eu tire.

ela é vida. uma parede em branco a qual preciso decorar. meus melhores enfeites, minhas melhores palavras, meu sono mais pesado são para preenchê-la. para devolver as cores e texturas que ela me proporciona. ela é sexo limpo, é amor que rasga sem partir. somos um corpo bruto, indivisível e irretocável.

somos o corte seco. sem enfeites, nem palavras, nem látex.

domingo, 9 de agosto de 2009

tem vezes que a vida lança na nossa frente umas supresas provocantes. é sistemático. tudo caminha bem, sem mais - nem más -novidades, até que tudo parece acontecer de uma vez só. as certezas chocam-se com as vontades e os caminhos ficam embassados. nada, porém, que nos impeça de seguir.

os olhos da moça encharcados de preocupação e lágrimas me levam de volta àquele lugar. ao silêncio que busca palavras para se quebrar, mas não acha. ao abraço que tenta confortar, mas é inútil. à impotência que já é comum naquele que impressiona e nada mais.

as mãos se encontram quase que automaticamente. é o tal silêncio no entrelace, o abraço dos dedos e a impotência dos pulsos. pode ser que não conforte, mas é tudo que se pode além de impressionar.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

as cicatrizes

isso aqui é sobre o tempo que se perde olhando para as cicatrizes... elas são as marcas da dor, do que um dia foi sofrimento. cicatrizes são felizes. representam que o que sangrava parou, que nenhuma lágrima mais conhecerá o mundo por aquela dor.

se, por agora, é melhor não recordá-las, tudo bem. mas não vai adiantar, elas sempre estão por todos os lugares. são as provas da nossa sobrevivência, dos rasgos na vida. servem para que lembremos que marcas são apenas marcas. que a dor vai embora, enquanto a gente procura outra para deixar doer.

minhas noites têm sido pesadas. olho pro meu corpo e sinto que ainda falta um pouco para que tudo volte a ficar bem. mas não por causa das cicatrizes. minhas feridas são internas, meu amor. enquanto você se preocupa ao olhar a cicatriz e sentir a dor de volta, a minha dor dói, sem sangue, sem lágrima e sem cicatriz aparente.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

eu queria me livrar dessa obrigação de ser a todo instante. queria ficar invisível por dias e conseguir caminhar em copacabana sem a pressão de ter um depois. desligar o telefone, o computador e viver os momentos com as pessoas que eu encontrar pelo caminho. queria todas as pessoas, assim como eu, despreocupadas com a morte, única certeza, despreocupadas com o amanhã, única dúvida, despreocupadas até com o outro, única dor. queria acordar de um sono leve, lembrar do sonho e sorrir durante o dia, sair de carro, ir ao cinema, comer fora, amar e sofrer.

queria você aqui corando minha pele pálida, meus olhos fundos, permeando com seu corpo cada centímetro de corpo meu, cada minuto da minha vida vã. queria ser você comigo, escolhido sabe-se lá por que motivo. queria o amor nas entrelinhas, nos espaços mais ínfimos dos nossos dias. queria amar ao me vestir, ao fazer a barba. queria isso tudo.

e eu sei que apesar de tudo, é pouco.

sábado, 25 de julho de 2009

sobre a pele o espaço deixado pelas marcas que não foram feitas. os arranhões, as ranhuras de unha. nada. nada disso. tudo se preenche pela ausência. mas é justo. valoriza.

tem vezes em que o sonho satisfaz mais que a realização. no sonho é tudo lindo. todos as marcas na pele existem. eu existo, você também.



até o celular tocar.

no bar

"o amor é a paixão que não deu certo.

a paixão é o amor sem hipocrisia."

porque depois de um bom bar só o que resta é paixão, com ou sem amor.

e foda-se o resto. o importante é buscar o amor na paixão. e a paixão no copo.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

inexatidão

sei que às vezes parece que não falo sério. que minha vida é uma grande brincadeira sem graça. mas não. por trás de toda roupa, de todas as frases e risadas, há uma infinidade de meandros, de variantes que dependem dos seus sorrisos. palavras são palavras porque não podem ser calculadas. a poesia do diálogo está presente em cada fala nossa. não buscamos o resultado porque resultado é para quem quer resolver. não quero resolver, quero envolver.

certo que as decepções nunca foram meu forte. mas que não seja dessa vez que elas me sacrifiquem.

até onde nós podemos ir? de onde deveríamos partir? essas respostas, se forem dadas, retiram tudo aquilo que é mais bonito, mais colorido e vibrante. tudo aquilo que buscamos viver, em cada dia, em cada copo, em cada letra impensada.

queria responder com o tempo, com as cenas que ele nos proporciona. me deixa construir nosso tempo. marcado. finito. inexato.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

céu nublado em copacabana. os ônibus e as buzinas compõem a trilha sonora bruta do dia comum. pausa no mundo para a troca de olhares. ele sobe a siqueira, ela caminha pela barata. os sonhos casam sem trilha e sem céu. as vontades dispensam os papéis e, no tempo em que o sinal fecha, aquilo que todos buscam aconteceu para os dois.

a moça foi feita para ele. seus recortes e linhas disformes despertam nele o tal amor pelo momento. eles piscam, o momento vai. com ele o amor, as alianças, as promessas e os papéis. mas fica a saudade, não dela, nem dele. do Momento. aquele do sinal fechado em copacabana. ou aquele outro na noite mágica do leblon.

cada vez que piscam, esperam que aconteça mais um. mas não é por aí. acontece e pronto.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

deus, sei bem que um dia você existiu. fez a mim, fez de mim um filho que nasceu prematuro. confuso entre as idéias e caminhos que me propôs. decerto me quis incerto desde o princípio. duvidando das fotografias que surgiam pelas minhas retinas eu me lia assim: um alguém perdido no labirinto das possibilidades.

se não fosse por você eu não estaria aqui, deitado na cama a refletir e a chegar às conclusões que de fato vou rever amanhã. você existiu. eu sou a prova disso. ela também. ele também. todo o resto.

mas deixou de existir assim que optou por me conceder o livre arbítrio. você deixou de existir, deus. abriu os caminhos e morreu sem me indicar qual seguir. levantou as questões e foi embora sem respondê-las. esse papel agora cabe a mim, a ela e ele. você morreu, deus.

e não deixou sequer uma pista de como sair dessa vida com a certeza de que fiz tudo que estava ao meu alcance. que merda é essa de que posso escolher tudo que há de pior? que merda é essa? se era para ser assim, pela metade, por que me fez?

sábado, 11 de julho de 2009

vou cortar o cabelo, me vestir de sonho e esperar até que chegue a minha vez.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

carta extraviada

"assim que você puder fala só comigo. deixa as preocupações em casa e me dirige as atenções com exclusividade. guarda a mochila lá do lado de dentro e vem me ver sem culpa. avisa à sua mãe que vai chegar mais tarde, bem mais tarde que o mais tarde que ela está acostumada. diz ao seu pai que está indo morar comigo numa casinha no humaitá. eu já resolvi o que tinha para resolver, sei que às vezes te confundo com essa indecisão que transborda nas minhas palavras. mas isso agora passou. quero que esqueça nossa trilha sonora para que possamos construir outra sem lembrar daqueles maus momentos. pode comprar novos lençóis para marcarmos em lugares diferentes. agora eu sou sua mulher mesmo que você não queira mais. pode ser que seja tarde demais para para pegarmos o último trem, mas me sinto disposta para esperar o primeiro de amanhã. espero que receba bem essas letras que há tanto gostariam de preencher sua vida, é que de mim só transborda o que que há de pior, o melhor eu guardei para usarmos juntos no humaitá.

beijos com a saliva mais arrependida que já beijou a sua boca!"

terça-feira, 7 de julho de 2009

naquele, nesse e no outro

que graça que ela tem! moça bonita, tímida e educada. sem querer brinca com os cachos e passos de mistério. suas escolhas de palavras doces brindam no desespero. na ausência mais presente que se pode enxergar. ela refaz as cores, tira do preto o amargo, do branco a monotonia. linda nas roupas e nos gestos. nos olhares e nos excessos.

ela nega como espanta-se a dor. foi posta por Arriaga na minha vida.

mal sabe o quanto é flor, apesar dos espinhos. mal sabe ela, a moça que provoca o sorriso. que provocou naquele, nesse, e no outro tempo que ainda não fomos fortes para viver.

que venha com ela Iñarritu para nos dirigir. no amargo e no branco. nas cores e nos cachos.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

se ela tivesse aquela roupa ainda. se estivesse naquele ponto ainda. minha vida poderia ser um eterno ainda. mas não. não agora. não mais. tudo se dá e se vive sem que paremos para notar. o tempo é bruto e as mudanças são líquidas.

as novas belezas e texturas ainda brilham pouco se comparadas ao que antes havia.

os novos traços intrigam e satisfazem muito se comparados ao que antes se perdia.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

você me parece diferente à cada dia. nunca tinha reparado, mas até que você sabe ser gentil. à sua maneira, mas sabe. seus traços começam agora a rimar com meus sonhos. você tá tão bonito. faz tempo que nos vemos diariamente, e suas roupas nunca te serviram tão bem. suas palavras nunca me fizeram refletir antes do sono. parece que você escolhe aleatoriamente seus objetos de desejo. parece que você me escolheu dessa vez. logo eu que achava não chamar atenção. eu que nunca falava alto, nem pedia a palavra.

você sempre falou sem preocupar-se com o eco. logo agora quer ecoar em mim? nos meus anseios? você sabe sempre o que as pessoas querem ouvir, e mesmo assim nunca diz. é pra valorizar cada fonema? cada palavra?

porque se for por isso conseguiu. tudo que você premeditadamente escolhe me dizer ganha ressonância antes do meu sono. eu sorrio sozinha pra você. não posso sorrir na sua frente. não posso te dar esse gosto. senão você vai esquecer do meu sorriso e tentar arrancar o do lado.

sempre foi assim, mas comigo não. comigo não. enquanto puder, vou fingir não entender os elogios e piadas. vou guardar os dentes pra sorrir toda noite. até o dia que eu não resistir e te der mais esse prazer. mais um. um caro, mas apenas mais um.

um dia

hoje nós vamos sair. telefones desligados para que o mundo não nos encontre. coloca aquela roupa pra mim. vista-se de mim. de nós. vamos ouvir a música que eu escolher, no lugar que eu quiser. hoje é meu dia, meu amor. hoje é o meu dia. vamos ficar acordados à noite inteira. discutindo literatura e música. fumando marlboro azul. tomando mate ou uísque. vamos assistir futebol amanhã; vamos à livraria depois. hoje é o meu dia. amanhã também. depois também. todos os dias contigo serão meus dias. vamos tomar café, levantar, almoçar fora, vamos nos apaixonar em cada minuto de cada dia meu.

coloca os óculos que eu te dei. pára de olhar pro lado, pra trás, pra frente. olha pra mim. pra mim. porque hoje é o meu dia. entra no carro e deixa a música no meu volume. diz que me ama sem penas. só hoje. diz que não quer tirar os óculos nem ligar o telefone. diz que quer que as provas se fodam. que provas só se forem de amor. diz sim pra tudo. pra mim.

dorme comigo, mora comigo, casa comigo, xinga comigo, ama comigo. só hoje. porque hoje é meu dia.

elege um dia pra mim. um por semana, por mês, por década. um dia meu. um dia seu. um dia seu pra mim.


por favor.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

carta para um amigo bem próximo

você sempre foi de todos nós o mais natural. surpreende a todos com as frases e gestos que variam entre a teimosia e a convicção. por vezes está errado. sabe disso e continua a afirmar. basta, a conversa é prolongada pelos argumentos mais imbecis que podem ser proferidos.

você sempre teve o raciocínio mais crítico. ponderado, é verdade. mas justo. esfrega na cara de todos como é simples ser feliz. sofre. sofre mesmo. tem dúvidas, receios, frustrações. mas nada que lhe tire o sorriso. nada que o faça deixar de ser o porto.

você sempre foi o professor. apesar de comportar-se como aluno. ouvindo. ouvindo. nunca falando. não é bom com as palavras. e é melhor que saiba disso o quanto antes. pedro, você é muito melhor fazendo que falando.

terça-feira, 23 de junho de 2009

sobre um fim

o mau humor é crônico. o mundo parece parado até que tudo se resolva. talvez eu tenha perdido a parte mais bonita que havia em mim. a parte pura de confiança e vontade. aquele coração que eu estava achando dentro do meu coração.

as palavras não refletem mais nada, mais ninguém. o silêncio e os olhares gritam frases em preto e branco. o mundo desmorona e eu não vejo. olhos fechados para o perdão. porque não foi traição, não foi. foi mais. foi a demonstração de que nada vale à pena. que é melhor tudo dispensar, porque nada compensa.

ter ciúmes é a demonstração mais egoísta de amor.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

forte é aquele que tem no coração um outro coração e uma outra cabeça; que pode amar dentro do amor e pensar simplesmente com ele. queria sê-lo e tento a cada minuto me provar que posso. que tudo compensa quando nada dispensa. que a vida é mais bela e intrigante quando se é e pronto. quando a cabeça se encarrega da burocracia já gasta do dia-a-dia, e libera o coração e seu coração e sua cabeça para amar e deixar ser amado.

e que quando for amado com pudores prove que tal amor não basta. que nada basta se não houver entrega total. que, quando for rejeitado pela razão, diga a ela que a detesta. que ela corrompe o que há de mais puro e irreversível. porque o amor é irreversível. finito, mas sem volta. que quando estiver a ponto de desistir de mais uma última tentativa, lembre que é sempre em uma última tentativa que o acerto acontece. que tudo que prima pela perfeição é uma última tentativa.

e que, quando sentir que não é mais amado, ame mais, pois é melhor amar sozinho que não amar ninguém.

domingo, 14 de junho de 2009

acabou. o tempo engole o que era mais farto, no tempo. as decisões precisam do imediato. e ele já foi embora com o tempo.

os saudosistas não entendem, mas o tempo foi e vai sempre. dois mil e cinco foi, e mesmo que queiramos sentí-lo em cada vão segundo, ele não vai reaparecer. ele foi vivivo lá mesmo, naquele tempo em que tudo era natural e impaciente. onde aqueles jovens sem preocupações brincavam de ser jovens despreocupados. levavam a brincadeira a sério. discutiam regras e brigavam para seguí-las.

o amor foi descoberto entre uma dose e outra; o gosto amargo do uísque lembrava que tudo era só brincadeira, que não eram tudo aquilo que queriam. era tudo piada bem dita, palavras escolhidas sem rigor. sem culpa, sem medo, sem antes nem depois.

porque o que havia ali ultrapassava o uísque, o dois mil, o cinco, as palavras e o rigor. era a descoberta daquilo que vem a ser chamado de amizade. era amar e ser amado, sem amante sendo amigo.



mas o tempo continua aqui, engolindo tudo. fazendo virar texto o que um dia foi a vida.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

passo a passo

pronto. a cabeça tá feita. certa do querer. do poder ou não-poder. não há nada mais sincero que eu possa dizer. me sinto consciente dos erros, dos acertos, dos sentimentos e inquietações. talvez seja tarde. mas não poderia assumir as responsabilidades sem a segurança que hoje flui pelo meu sangue. os meus sonhos hoje casam comigo, com que sempre fui e não deixei de ser. o sorriso parece querer voltar a ser gratuito. as mãos demonstram-se viciadas pelos laços ou nós que não foram desfeitos. nós não fomos desfeitos. ou fomos.

chega de colocar sentido no sentimento. atribuir valores às vontades.

elas são e existem por si, por mim, a sós.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

epitáfio dos vinte

"ele foi um apaixonado. dava a cada minuto cores e texturas próprias. sempre quis estar rodeado de amigos, precisava disso para viver. ainda que esses não fossem aquilo que lhe fazia melhor. só o amor lhe faria melhor. mas ele uma vez disse que não amava as pessoas, que ninguém amava as pessoas, que ele amava os momentos, os detalhes dos momentos e desde o primeiro amor, ele buscava o amor novamente, o momento novamente.

ele foi sincero. discutia consigo mesmo buscando a sinceridade dos gestos e das mentiras. contradizia-se por julgar mais sincera a contradição. a mudança e o atrito sempre tinham a verdade como cenário. alternava o amor e o ódio para fugir do rancor. porque uma vez disse que o rancor é um sentimento falso. e que se é falso não é sentimento. e ele fugia do que não era sentimento.

ele foi um erro. um grande erro que sempre carregou acertos. mas uma vez ele disse que era melhor tentar o acerto o tempo todo transformando-se em um grande erro, que omitir-se da paixão e da sinceridade.

ele era paixão sincera. errada."

terça-feira, 2 de junho de 2009

eu por mim

o meu curso é sempre o mesmo, não tem afluentes. é caminho seguido e repetido à exaustão. desde sempre é o exagero consumindo exagero, no pão, no estudo e no amor. minhas dúvidas sempre foram enormes e maniqueístas. a vida me vive. sem que eu sinta. consome até meu último respirar e depois me obriga a seguir, rumo à outra. se tudo parece errado, no trabalho, no estudo e no apartamento, eu prefiro a mudança drástica, sem eleger justificativas. odeio as metas pelo caminho, o importante é o final. os afluentes, repito, não me atraem. eu gosto mesmo é daquela rota que eu já conheço, do pão, do estudo e do amor. do ser diferente ou igual, de ser o maior ou o menor, detesto o mais ou menos, que na verdade representa o ou, o politicamente correto, que representa o ter que. se é politicamente não pode ser correto. se é mais, não pode ser menos.

se eu sou eu, nada posso ser, além de mim.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

jardim de metal

as queixas que esperam promessas matam pouco a pouco aquele que não sabe mais o que prometer. são noites pensando em como agir e sentir, na mais completa solidão. logo ele que agia com tanta objetividade, com tanta clareza de sentido e finalidade. é doce castigo a inquietação, é olhar pela janela com medo de ver que tudo que mais se quer está dentro de casa, guardado no armário cansando de esperar. é o medo de assumir que não é capaz de cuidar de um jardim tão lindo, é o peso que carrega sempre que vê as flores sorrirem, metálicas ou não. queria pedir pra ser cuidado, mas o orgulho não permite; as palavras fogem quando são e quando não são pronunciadas. vão pra longe, pra dentro, pro lado ainda limpo que existe no seu coração. o homem quer sair do castigo, mas tem medo do mundo.

porque só de olhar, sabe que o que parecia castigo é muito mais bonito que o mundo.

domingo, 31 de maio de 2009

sobre os amigos e aquilo que importa

o homem não consegue se entender com suas vontades e necessidades. a geléia vem antes do pão. a sobremesa, antes do prato principal. é sempre melhor pensar no depois. mesmo quando o agora se escancara e grita que sem ele não há mais tarde.

talvez certos estejam eles, que nunca pensaram à frente, nem cultuaram o passado, sempre estiverem exatamente onde estavam. parados. ali, onde tudo acontecia e antecedia o dia seguinte igual. sem sombras nem planos.

eu achava que éramos todos assim. mas foi só coincidência. os momentos deles, simplesmente, rimavam com minhas aspirações, e hoje contrastam até mesmo com o que de meu já ficou. de qualquer forma, continua sendo poesia sem rima, polifonia desconexa e bonita.

somos vetores que seguem sentidos diferentes. porque se ser pra frente é ficar parado, prefiro continuar sorrindo lá atrás, naquele lugar onde tudo acontecia em uníssono.

terça-feira, 26 de maio de 2009

em construção

é aquela sensação de desencontro desastroso.
é a saudade contrastando com o controle.
é a insônia que parecia finita prolongada por horas e horas de orgulho.
é algo muito forte que me mantém imóvel, impróprio.

são as perguntas que surgem sem as corretas companheiras.
são os óculos escuros que escondem as impressões mais improváveis.
são os chinelos que já preferem criar caminhos contrários.
são os desejos que desejam ser esquecidos, esgotados.

é amar sem amor, sem amante. é maldade e masoquismo compulsório, compulsivo.

são as certezas se diluindo nas palavras e silêncios escolhidos pelas bocas dos artistas da vontade.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

sirene insuportável

nunca soube distinguir quando era ambulância e quando era polícia pelo som. ficava com medo, quando era menor, achando que onde havia sirene, havia tiroteio e risco de vida. talvez até fosse verdade.

eu sei que agora é como se eu estivesse cego, ouvindo uma sirene insuportável que sai de dentro do meu próprio corpo. continuo não sabendo se é a polícia me punindo pelos crimes que eu cometi. ou uma ambulância me levando para o hospital por causa dos danos que sofri.

domingo, 17 de maio de 2009

é tensão ininterrupta. quando tudo parece caminhar o telefone toca, umas palavras desviam o destino, e outras, não ditas, deixam a sensação de que falta ainda. pode ser a confusão de sentimentos que costumamos apelidar de maturidade, ou um simples mal estar por estar. estar fazendo tudo da maneira que parece certa e não enxergar os resultados. é a quase certeza de que quando o quadro está perfeito a tela começa a desfiar. é o não depender mais de si.

o que conforta é saber que quando se faz tudo certo, uma hora as coisas acontecem.

se o problema está no detalhe, é melhor entregar-se à amnésia, já característica daquele que não dorme com medo do telefone tocar.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

sobre o tempo e os caminhos

às vezes a gente se vê cercado de caminhos, de certezas que não se revelam reais no final. as pessoas procuram palavras que traduzam os sentimentos mais complexos, as frustrações mais dolorosas, e os esforços mais inúteis. nessa tentativa de traduzir o intraduzível o tempo elimina o cercado de caminhos e impõe os mais longos. as conversas de horas que buscavam conselhos e elucidações se repetem. o mapa está ali. bem na frente. com todas as paradas previstas e estudadas por alguém que já repetiu o caminho da derrota diversas vezes. não adianta se esconder, uma hora só vai restar uma direção.

é a hora de perceber que as possibilidades se foram bem antes das lágrimas escorrerem.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

caetano não pára de cantar. as músicas se repetem, o tempo todo. ainda bem que os papos não. as pessoas entram na minha vida sem pedir licença. sem tocar interfone, sem falar com o porteiro. minha vida sempre foi assim. mudanças, mudanças, papos, papos, amigos, amigos. é translação, rotação, é inquietação. é o não saber parar o ponteiro do relógio; é o não saber colocar o depertador no on.


brahma, antarctica, skol. cada dia é vivido com um espírito, com um pensamento, com um amor. cada dia é vivido nesse único e confuso corpo.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

talvez seja o mau humor ou a insônia. mas meus amigos não são mais aquelas pessoas que sempre foram pra mim. parece que há uma pedra no caminho de cada um. nossa felicidade não é proporcionada mais pelo mesmo momento, pela risada simples, pela piada bem dita. o diálogo sumiu, o que há são monólogos em grupo, mistura de som e de frases que juntas não fazem sentido. eu devo estar errado, mas eles demonstram-se cada vez mais perdidos, e é estranho porque parece difícil demais perder-se num mundo tão pequeno. meu silêncio é cortado por umas palavras que soam estranhas pronunciadas por quem as pronunciam. foi só um fim de semana. ilustrativo. mas só um fim de semana. espero que seja impressão, impressão de quem virou a noite e foi incomodado durante as três horas da viagem para reencontrar aquelas antigas e necessárias palavras.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

do lado de lá

sobressaltada ela acordou sem saber que horas eram. com as cortinas fechadas, o sol não lhe dava pistas, teve mesmo que acender o celular. estava atrasada, havia marcado nove horas. a noite regada à Stella a tinha feito esquecer dos compromissos. banho rápido, sem lavar os cabelos recém-pintados. ray ban escondendo as olheiras e coca light na mão, tinha achado no zona sul de ipanema e resolvera matar as saudades. nada melhor que uma coca para aliviar a ressaca. parada rápida na banca de jornal, seu cigarro tinha aumentado de preço, trocava, portanto a caixa pelo maço. correu em direção ao ônibus inultilmente, o motorista parecia estar com pressa. acendeu um cigarro, esperou o seguinte e seguiu.

terça-feira, 5 de maio de 2009

o início

ele sempre achou a coca light mais charmosa, o prateado lhe chamava mais atenção que o preto da zero. não interessava o sabor das duas, a melhor sempre foi a comum engarrafada. talvez o vidro tenha alguma influência, ou os conservantes fossem diferentes. mas dane-se, o charme da light lhe causava calafrios. perguntava-se todos os dias por que ela sumira, já que nos estados unidos ela ainda é encontrada por todos os lados. um dia viu no ponto de ônibus a moça de cabelos curtos cor de scotch oito anos, ela fumava marlboro light e tinha em mãos a lata prateada. onde ela conseguira aquilo? que ônibus esperava? passou um qualquer que ia pro leblon, só podia ser leblon mesmo. de salto alto ela subiu, e desapareceu na direção de ipanema. a moça morava ali por copa? tinha ido resolver algum problema e estava voltando pra casa? queria ser o trocador pra saber exatamente onde desceria a coca light. decidiu pegar o próximo ônibus pro leblon, arrependeu-se de não ter ido no mesmo. ela estaria na travessa, certamente estaria na travessa, lendo qualquer coisa marginal, com outra lata prateada em cima da mesa.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

dorme bem. que enquanto você dorme se desprende de todo o dia. do teatro dos diálogos, das caras e bocas dos desejos. dormindo qualquer um é inocente. põe roupa confortável, sem adequação de cor, sem maquiagem, com bafo. espero você dormir para te enxergar de verdade, com olhos covardes que veem sem ser vistos. olhos resfriados com a sinceridade da sua respiração. mão no travesseiro, mudança de lado. não, acorda não. não quero papo, volta a dormir, volta que nesse retângulo quadrado basta um acordado. sono exige quietude, tenta parar de se mexer, tô há horas tentando dormir e não consigo por causa dos seus movimentos parados.

domingo, 3 de maio de 2009

cada uma das pessoas que entra naquele vagão do metrô tem suas preocupações. amores, saúde, família, grana. umas sabem ao certo pra onde vão, outras clamam por informações para decidir seus destinos. o metrô é o transporte hermético, a fuga das opções, é descer ou não. e se esquecer de descer é só voltar. pelo mesmo caminho, por um trilho que só se diferencia do outro pela direção.

o homem que resolve seus problemas a pé tem o direito de parar entre a arcoverde e a siqueira. entre são cristóvão e maracanã. mas anda sozinho, por caminhos infinitos e desconhecidos. enxerga a sujeira da rua, desanima e anima, anda, pára. perde-se, acha-se. no metrô é só escuridão, é só voz nos alto-falantes, correria e escadas rolantes. metrô é atalho, sapatos são possibilidades.



- um bilhete duplo, por favor?
é que o mundo sempre faz questão de lembrar
dos caminhos que levam de volta ao lar,
do tempo, das voltas, que se deve esperar


.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

o sol invade meu apartamento diariamente pela minha janela. exagero máximo de tudo. cor, textura, temperatura. tudo foge do real quando é atingido pelos raios. manter-me nublado parece cada vez mais difícil.



o sol não desiste de me exagerar.

terça-feira, 28 de abril de 2009

respiração acelerada. dor de cabeça. o balançar do ônibus causando arrepios em quem só deseja chegar em casa. sem supresas, sem clímax, sem final feliz. quer meio feliz, começo feliz, quer não pensar em final.

as placas nas ruas, à noite, fazem refletir. está tudo errado. só quer bater a porta e assistir à novela. cansou da tv a cabo com suas séries, seus documentários. quer família, almoço, jantar, passeios nos fins de semana.

a vida parece tê-lo colocado contra si mesmo. contra o que havia de melhor em tudo. a dor de cabeça não mais cura com analgésicos, é crônica. é poesia.

domingo, 26 de abril de 2009

bernardo comprou um despertador. precisava de algum barulho que lhe fizesse acordar. acordar do sono de proust. um sono que se detalha enquanto é dormido.

nada sabia sobre o mundo de dia, sobre as pessoas que viviam de dia. mas curtia cada minuto da noite, e dos sonhos sonhados enquanto o sol cismava em aparecer.

mas agora bernardo tinha despertador, quis conhecer o dia e todos os prazeres que ele pode proporcioná-lo.
a vida é feita daquilo que se deixa pra trás. daquilo que tivemos que abdicar. nossos melhores planos são aqueles que deixamos de realizar. as melhores fotos, as que não tiramos. os melhores amores, os que não vivemos.

sempre dói pensar que o que se deixa pra trás pode nos tornar mais felizes que a luz à nossa frente.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

não faltavam perguntas para responder. a todo instante alguém perguntava sobre seu estado, sobre seu misto de sentimentos e frustrações. nunca teve nada a esconder, mas naquele momento não tinha nada para mostrar também. o que lhe faltava eram as respostas.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

batendo e soprando eles tinham a certeza da complexidade de cada carência. testavam-se em todas as frases e preferiam não mais passar por testes. faltava a aprovação, total e inequívoca. precisavam validar o que já tinha validade, pelo menos para a individualidade de cada um. individualidades que só existiam nas cabeças de ambos. ou na cabeça, pois sempre foram uma coisa só.

desde que se conheceram o quebra-cabeças foi se solucionando sozinho, foi criando forma de paisagem bonita, tão bonita que nem precisavam finalizar o jogo. tinham certeza de que no dia em que finalizassem ele ficaria jogado de lado. numa espécie de sopro infinito. e eles sempre precisaram bater.

bater era a certeza de prolongar o horizonte do quebra-cabeças, e de fazê-lo perdurar.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

me espera no portão, na mesma hora de sempre. pode ter certeza que eu vou passar, pelo menos pra te levar ao cinema. assistir ao último woody allen. ou ao primeiro, último por ser o mais recente. põe a flor no cabelo, marina, e vê se não atrasa, a gente já perdeu o cinema outras vezes. pode ir descalça, deixa o pé sujar, de lama, depois limpa. se a gente perder o cinema não vai ter problema que a gente bebe num bar. depois eu te levo em casa, espero entrar olhando e namorando pelo portão. quando a porta bater eu finjo que nada aconteceu, volto pra casa e leio alguma coisa. no dia seguinte a gente não se vê, há distância demais, mas não é problema, nem nunca foi, não esse, não isso.
corta'li.
part'aqui.

isso, cada palavra no seu lugar,
posso agora pensar em começar,
pra não perder o ritmo, vou bem devagar.

isso aí, tem que ter amor,
poema sem amor não é poema,
poema de verdade tem que ter dor,
se é poesia tem que ter dilema.

pode aumentar o ritmo,
tô entrando no clima,
putaquepariu, não sei rimar com ritmo.
quebrou tudo, assim desanima,
queria meu poema com rima.

vou tentar de novo,
mas dessa vez com conteúdo,
posso ensinar ao meu povo,
algo de útil, sobre tudo.

que ódio,
não sei fazer nada disso,
preferia tá fazendo química,
mexendo em potássio, em sódio.

pára e pensa,
forma e conteúdo não combinam,
a forma o conteúdo dispensa.

conteúdo que é bom mesmo não liga pra forma,
daí ninguém lê, ninguém pensa,
ninguém transforma.

terça-feira, 21 de abril de 2009

é inevitável o atrito, ainda mais com tanto contato. ainda não conheci a moeda de uma face só, há sempre o revés. o contrário e o contrário do contrário.

o ódio sempre carrega o amor atrás. o medo, a coragem. o bom, o ruim.

eu, ela.

domingo, 19 de abril de 2009

o olhar resfriado dela o causava náuseas. aqueles olhos lacrimejantes o faziam lacrimejar também. a pele parecia ter perdido a febre. tudo frio demais, não fossem pelos olhos que ardiam em vermelho. ele sempre quisera ser o antibiótico dela, e ela, sem saber, sempre fora o dele.

esqueceram-se que antibiótico em excesso perde o efeito. logo ela que estudava biologia.

hoje, ela vive sem os sintomas que tanto lutava para curar. ele apenas vive, espera a morte assintomática, aos poucos. sem aquele drama, sem aquela gostosa dor.
ele fumava cigarro de filtro branco. deixava claro que o estresse não era bastante pra trocar a cor do filtro. lá estava ele, lendo O Globo, no chão da rodoviária, escondido atrás de seu Ray Ban. a notícia capa do jornal dizia estar acabando o embargo a Cuba.

(o mundo realmente parecia virado pelo avesso)

seu melhor amigo, que até então lhe parecia distante, estava à sua frente, apenas pra conversar amenidades até que a hora de embarque chegasse.

dentro do ônibus ele sentia-se como Cuba, isolado num pensamento que ninguém mais compartilhava. perguntava-se quanto tempo duraria o embargo. quis exilar-se.

ao ler a confissão de raul de que cometera erros a reflexão foi instantânea. ele sabia que não se pode unir-se com o lado perdedor. mas naquele momento tudo já era perdido, e nada restava a não ser trocar a cor do filtro do seu Marlboro.

sábado, 18 de abril de 2009

quebrando os pés, de pé.

que peste. piso em pedras que, cada vez mais, me punem. os meus vícios têm se encarregado de me consumir por inteiro. as drogas me alucinam todo o tempo, e são drogas caretas.

não existe nada pior que drogas caretas. elas te fazem sentir tudo sabendo estar sentindo.

sinto meus pés sem sapatos, sem meias, sem pele. sinto-os quebrados, inteiros e de pé.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

parece que aquela universidade transmite a frieza por osmose. não sei se são as paredes sem pintar ou os antigos alunos que já passaram pelo processo. a verdade é que nem nas rampas nota-se subjetividade ou afeto. a burocracia do lugar parece ter transformado todos em seres humanos ausentes de humanidades. acredito que mesmo se cada andar tivesse uma cor, a do décimo seria cinza. e quem poderia manchar as paredes de amarelo parece sumir à tarde. eu é que não vou meter as mãos na tinta; tenho medo de alguém reclamar depois.
impressionante como um mal entendido pode mudar a vida das pessoas. hoje tenho certeza de que estou mais escuro. meu verde parece musgo, deixou de ser limão. meu azul, marinho, perdeu a turquesa.

talvez a frieza esteja tomando conta de mim, e o sangue bombeado pelo meu coração esteja cada vez mais denso. denso em tudo. em amor, em ódio, em dor e em medo. tô cego em relação ao meu futuro. e é triste saber que fui eu que cravei os pregos nos meus olhos, pois sempre houve um horizonte, e eu deixei que tudo se apagasse.

só uma pessoa é capaz de me trazer de volta o amarelo manga. e o vermelho? ah, o vermelho é e será sempre vermelho.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

num papel de bloco

"leva esses livros pra mim na sexta. não esquece!

TE AMO MUITO!

Beijos.

PS.: não deu tempo de arrumar direito."
"é como se eu tivesse aberto o flop, com às e reis nas mãos, e visse sobre a mesa um seis, um nove e um três.

ainda restam o turn e o river.

mas levar a mesa num river é apostar demais em si mesmo."

cada dia que passa me sinto mais distante. as decepções tem preenchido meu tempo vago.

domingo, 5 de abril de 2009

que bom que a capitu não tinha um blog. porque, se tivesse, quem não sabe ler estaria até hoje buscando algo nas entrelinhas, esmiuçando cada palavra.

sorte dela que morreu sem se explicar. chega de explicar o inexplicável.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

é estranho como meu humor muda a partir de vozes.

é ouvir uma delas e sorrir. pago caro por isso, mas ainda não sei quanto vale meu sorriso.
porque tudo se repete. independente do que a gente faça, nossa vida é recheada de tumores. é errar em uma única mutação, em um único minuto, que o erro tende a se multiplicar. e as proporções aumentam com a idade.

as vicissitudes da vida são experimentadas da forma mais dolorosa possível, com a morte de umas células e com o nascimento de outras. às vezes a que se reproduz é uma novinha, perfeita, mas na maioria delas a reprodução exponencia os neoplasmas, e corre a morte toda.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

tem uns livros que sei não vou ler.uns discos que sei não vou escutar. e uns filmes sei não vou assistir. preferia não saber ler, ser surdo e cego. ter consciência daquilo que descarto só me faz mal; e não são só livros, canções e filmes.
às vezes eu olho quantas pessoas acessaram o blog e fico assustado. fico me perguntando por que tantas pessoas insistem em ler o que escrevo. algumas são de lugares que nunca visitei. peço às pessoas que cismam em aparecer por aqui que deem sinais de vida, apareçam também no Twitter, no Orkut ou mesmo no email.

Eu escrevo para que alguém leia. Sei que minhas letras são bem pessoais, mas se alguém se interessa por isso quero saber quem é e o porquê.

terça-feira, 31 de março de 2009

tem uma máscara pendurada na parede da minha sala. o homem que me vendeu disse pra sempre que olhasse pra ela lembrar do dia em que foi comprada.

estava bem frio, rolava uma festa junina caída, um bingo de igreja e tinha também uma enorme fogueira. um filme do spilberg dublado encerrou a noite. tinha tudo para ser péssimo, mas foi ótimo.

hoje, só não me escondo atrás dessa máscara porque sei que se colocá-la no rosto nunca mais poderei olhar pra ela.

sábado, 28 de março de 2009

bilabial

pequenas massagens mesquinhas, bestas, mas bonitas.

perto, bem perto, bocas meninas permeiam-se. beira pro maior pecado: beijos mansos, moleques, putos, brandos.

pode parar. beijo manso mancha boca, prende o pranto, bate porta.

mesmo morto, beijo mente, magoa, machuca, parte.
se ele tivesse noção do que abdicava ao fumar seu cigarro, depois de desvirar o colchão, largaria o vício. o espaço parecia pequeno demais para o homem que queria engolir o mundo. o tempo escasso para quem queria estar em todos os lugares, com todas as pessoas ao mesmo tempo. nunca soube dividir, sua calculadora só tinha o sinal da soma. acabou que aos poucos foi subtraindo e traindo a todos. estava com um quando queria estar com outro, chegava em casa arrependido de ter estado com quem esteve. naquele estado já não queria estar com mais ninguém. queria apenas ser, sem poréns, sem o detrimento e a escolha. preferia escolher ao acaso, sem fiel, sem balança, sem sinais.

sexta-feira, 27 de março de 2009

e os relógios já não marcavam a mesma hora. o fuso era diferente demais para chegarem aos lugares juntos. quando ele queria, ela estava cansada. quando ela queria, ele já havia desistido. quando ele bebia, ela enjoava. e os horários cada vez ficavam mais distantes, tão distantes que se econtravam de vez em quando. e nesses momentos eles tinham certeza que haviam acertado os ponteiros e que seguiriam sem mais desencontros. estavam errados, mas persistiam porque mesmo vivendo distantes sabiam que uma hora ou outra teriam instantes que os fariam continuar.

nos outros momentos pensavam em desistir, desistiam e tentavam. mas os ponteiros se cruzavam quando eles não queriam, nem adiantava adiantar, o remédio era a espera.

quinta-feira, 26 de março de 2009

músicas, frases, rascunhos, lençóis, lugares, transportes.

o tempo deixou as marcas que só ele pode levar.
ele dormia e sonhava durante o percurso. pensava que o trem ia parar e que ia descer. faria tudo que quisesse pela estação, e, sem cruzar a roleta, voltaria pra seguir com o próximo trem. não tinha dinheiro para outra passagem.

só que, quando ele saiu do trem, procurou pelo que mais sonhava por toda a estação e viu que brilhava lá fora, pouco depois da roleta. sem nenhum pudor desistiu de pegar o trem e foi buscar o sonho.

hoje, ele tá esperando alguém quantificar o valor do sonho pra que ele possa vendê-lo, porque ele sabe que sem o trem não pode mais sonhar.

quarta-feira, 25 de março de 2009

porra nenhuma

a verdade é que não lembro de frustrações na minha vida. as coisas acontecem da melhor forma, e sempre foi assim. tudo muito fácil. nenhuma imposição ou restrição. as críticas sempre foram levadas com o bom humor de quem sabe que quem critica não sabe o que diz. os elogios infinitos, e encarados com a consciência de que sempre foram exagerados.

estranha a leitura que me parece tão clara: fui mimado pelo mundo e cansei disso. entrei num conflito que busca a derrota. a derrota sim, porque sempre se busca o que é raro. e eu nunca perdi, nunca mesmo.

necessito dos limites, do fim do egoísmo e da admiração de quem nem sabe quem eu sou. quero ser castrado, definitivamente. preciso sentir dor, de cotovelo, física ou de perdas. quero conhecer isso.

e tenho feito de tudo para alcançá-la. sinto inveja dos que temem e sofrem, porque eles crescem muito mais que eu, parado num falso pedestal.

terça-feira, 24 de março de 2009

conversa de maluco

- tem certeza disso?
- absoluta.
- toda certeza é absoluta.
- nem toda, a sua não.
- é, mas se é certeza tem que ser absoluta.
- mas no seu caso não.
- então não é certeza.
- é, talvez não seja. mas as certezas sempre me impediram de andar.
- então vai andar.
- mas às vezes é melhor ficar parado que andar pra trás.
- você é louco, esse negócio de frente e trás é sentido de vetor.
- não entendi nada do que você falou.
- te amo.
- também.
ele sai com os olhos escorrendo e com o nariz lacrimejando. tudo parece fora do lugar pra alguém que ama com a cabeça e pensa com o coração.

o foco estava perdido e não queriam encontrá-lo. até que um dia, mesmo sem a vontade de ninguém, ele foi se achando, o estrabismo foi-se, sozinho, sem pedir permissão.

e ela, que já desistira de pensar com a cabeça e amar com o coração, foi de encontro ao homem que andava com as mãos e escrevia com os pés.

(pode ser que continue)

quinta-feira, 19 de março de 2009

é difícil mesmo aceitar a idéia do meio termo. tem que ser bom ou ruim. honesto ou canalha. bonito ou feio.

Por quê?

toda verdade carrega mentiras, e vice-versa.

a fotografia em preto e branco não tem preto nem branco: o que cria as formas é a tonalidade do cinza.

fotografia

era o momento da fotografia,
pra lembrar daquele dia,
do amor que se esvaía,
dos nós que ainda havia.
(e que eu não mais via)
quanto mais eu busco as explicações, mais me questiono. a saída é aceitar as conveniências, rebater os achismos e os bodes espiatórios. sem fuga, mas sem procura também.

achei que gradativamente os hábitos se criariam e a esperança fosse embora, mas não. pelo menos ainda não. me sinto num sonho sonhado pela metade, daqueles que você passa o dia inteiro imaginando como terminaria.

terminou. no meio.

terça-feira, 17 de março de 2009

só pra resumir

Thiago Pontes (Rio, avô, Nathália, assalto, fim. Vassouras, Arco-Íris, C.A, Luisa, geleca na Rachel, xadrez, Sílvio, Gil, Guilherme, Lucas, guitarra, Pedro Henrique, Macaé, fim. Rio das Ostras, depressão, praia, Tíbia, Vassouras, Pedro Fernandes, Raphael Huebra, Glaucineide, Hopi-Hari, Felipe, Raphael Vieira, tenis de mesa, condomínio, férias, praia, monza preto, renaut clio, condomínio, festas, whisky, Pedro Flores, vôlei, cerveja, Júlia. Júlia, festas, meninas, Júlia. Júlia, Zeca Baleiro, Pedro, Camila, Los Hermanos, Felipe, Filipe, Reveillon, Los Hermanos, Morro da Urca, Raphael Nascimento, Sofia, Júlia. Vestibular, Diogenes, Sérgio, Marquinhos, Desirée, Thais, jornalismo, Rio. Júlia, Unirio, Uerj, LV, Gabriel, Guilherme, Manoel, Lucas, Reveillon, carnaval, Júlia, fotos, Júlia. [...])

Daí pra frente eu não sei.

segunda-feira, 16 de março de 2009

são muitos os momentos que me fazem sorrir.

pois parece que tudo conspira a favor do choro.

vamos à explicação...

vivo num enorme choro interior, as coisas não acontecem e triste permaneço.

nesse estado de lágrimas, qualquer pequena alegria me leva ao sorriso. são apenas pequenos sorrisos de lado, mas são muitos.

domingo, 15 de março de 2009

tem dias em que as coisas não acontecem. as respostas desmontam as perguntas. as atitudes não têm o efeito previsto. mas continuo pensando em seguir, apenas isso.

não consigo entender as pessoas. não mesmo.

algumas parecem gostar de sofrer. será que faço parte desse grupo? (silêncio)

sábado, 14 de março de 2009

sinto que a vida toma o rumo certo. torto, mas certo. triste e alegre. me vejo com uma serenidade que sempre foi ausente, e sem as certezas, sempre tão presentes. a semana foi boa, o fim de semana surge necessário para distrair e acalmar. resta agora aproveitar a dor e as saudades - do próximo e do longínquo.
não tinha um clima californiano, parisiense nem carioca. não tinha clima, era seco e sem vento. havia caminhões e ônibus, o tempo todo, por toda parte. era feio e sem graça, chovia de fazer os fios caírem. havia também uma estrada, que parecia levar a lugar nenhum. mas havia algo por ali que atraía, não sei quem, não sei por que, só sei que atraía.

não precisavam estar curtindo a califórnia, a culinária francesa, nem o mate carioca. do nada, por volta das seis da tarde começou a ventar, e o clima já na hora havia. os caminhões viraram assunto, os ônibus necessários e a chuva o motivo da permanência. mas a estrada continuava levando a lugar nenhum.

até porque quem estava ali não queria ir pra lugar algum, queria apenas estar ali, e aproveitar cada mísero minuto naquele apaixonante lugar insuportável.

segunda-feira, 9 de março de 2009

refazer os planos e seguir. isso é mais que necessário agora.

eu e felipe vamos construir nosso solar em Lumiar, com nossos discos, nossa poesia, nosso uísque e nossa cara. muito espaço para o descanso e para a vida, e nenhum pros problemas e preocupações.

vamos renovar, viajar e recordar, recordar muito, para sempre. porque hoje sou tudo aquilo que já vivi. e que amei tanto viver.

tudo ainda faz sentido, nada foi jogado fora. sou feliz por fazer parte de uma história maravilhosa de amor, amizade, cumplicidade... mas que, como todas as histórias, tem seu final e são eternas ao mesmo tempo.

(nunca quero esquecer o quanto é bom sonhar sem realizar)

sexta-feira, 6 de março de 2009

desperta, dor. desperta que tá na hora da prova.

que prova?

-Alô?

quarta-feira, 4 de março de 2009

saudades daquela menina de cabelos ondulados. que dorme no chão, não usa internet, nem telefone. cansei do celular dela e do seu orkut. quero a pureza de volta. o esquecimento que eu nem sei se ainda existe.

quis tanto ser lembrado que hoje necessito ser esquecido. mas não para sempre.

terça-feira, 3 de março de 2009

dois mil e oito termina quinta-feira. uma semana de descanso e começará dois mil e nove. meu ano de mudança passou, hoje me sinto estabilizado, sinto que criei laços, que vivi algumas histórias e deixei de viver outras. a partir de agora as preocupações são outras. já filtrei as pessoas que quero que sigam comigo, falta agora seguir.

dois mil e nove tende a realizar muitos sonhos meus e tenho muito medo de realizar meus sonhos. medo de parar de sonhar. conversava ontem mesmo isso com um amigo.

alguns saltos profissionais que não sei se quero assumir vão aparecer. outras pessoas vão aparecer, e as mudanças acontecem sem serem notadas. difícil mesmo é quando se nota.
que cansaço. quero uma rede bem grande. daquelas que dão voltas e que cobrem.

quero me cobrir, descansando.
como é bom saber que ainda se faz amigos. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos. com ou sem confidências, com ou sem histórias comuns. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos.

depois de um tempo a gente acha que os amigos estão feitos. puro engano. amigos que conversam, tomam cerveja e são amigos se fazem no dia, na noite, no trabalho, na faculdade. são feitos de nada, de graça.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Ele sentia-se tão gostoso,
mas tão gostoso,
que se masturbava pensando em si.

De quatro.

domingo, 1 de março de 2009

o shampoo e eu

"Hoje me deu a maior vontade de beber shampoo. Apertei o vidro e cheguei a quase colocar a boca.

Na hora de sentir o gosto dele, desisti. Não pelo medo do gosto, e sim pelo medo dos arrotos posteriores, que carregariam o cheiro do shampoo para todos os lugares que eu fosse.

Um dia ainda me desprendo do medo dos arrotos e tomo litros de shampoo. Sozinho, pra sentir seu cheiro saindo de mim a todo instante.

Quando os arrotos passarem, vou ao banheiro e tomo mais um pouco de shampoo."
Carta codificada,
com um cado de carinho,
conspurcado, escondido.

Cubro com coisas que nem sei o que são.
Só pra o cado de carinho continuar calado.




(Bem aqui. Onde nada se diz. Onde nada se lê.)
Ahh, o que eu queria mesmo era morar na Siqueira Campos.

Me perder naquele mar de tudo.

Só pra ninguém perceber pra quem estou olhando.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

pinto erro em preto e branco,
que com erro colorido me espanto.

corro e coloro o branco, pra espantar o medo,
do preto no canto.

canto pro preto do medo, pro branco do santo.

rezo pras cores voltarem,
que com erro colorido me encanto.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

durmo com o gosto do último cigarro.

é o gosto daquilo que eu não quero que saia da minha boca. nunca.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

o carnaval termina como começou. nenhum bloco conseguiu me arrastar.

sinto que a cada dia me arrasto para dentro das dúvidas.

meu carro foi o maior instrumento de fuga, mesmo quando não saía do lugar.

queria seguir um sonho que passasse em minha porta feito um bloco. mesmo que dele eu acordasse numa possível quarta-feira de cinzas.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

sobre quem escreve...

apesar de todos os obstáculos impostos pela saúde, pela família, pelos estudos e tudo mais, é bom saber que existe alguém que me faz sorrir sem querer.

se é apenas brincadeira eu não sei. e prefiro nem saber.

porque as melhores brincadeiras são aquelas em que não se sabe onde está a graça.


e se eu descobrir, quer dizer que perdi.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

exageros

- Senta, cara. Vai pra casa. - disse Lucas

- Acho que eu exagerei, ontem.

Dois dias depois...

- Acho que exagerei no sol, hoje.

-Sua vida tem sido só exageros.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Little Joy. desesperadas, as pessoas pagavam até 200 reais para assistir à banda, nas imediações do Circo Voador. talvez se já tivessem ido a um show da banda pagassem até 500.

sei que paguei 60 reais por um show que dispensa adjetivos.

little joy é uma expressão que em português significa "pequeno prazer".

o nome é perfeito para um show que dura menos de uma hora e proporciona uma enorme sensação de felicidade absoluta.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

já aprendi a conviver com ausências. e a ausência só é notada quando se está presente.

espero que o show da sexta me leve de volta a outro tempo. um tempo no qual a presença era sentida mais que a ausência.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

estranho isso de começar o ano sóbrio e estudando. mas a semana seguinte compensou.

o ano começa sem aspirações, sem saudades, sem aquela vontade de usar a borracha nova. começa como terminou o outro.

senti falta de ficar animado ao ouvir a música da leader magazine.

quando os reveillons começam a ser passados com as mesmas pessoas é sinal de que há algo entre elas, mas, pessoas, vamos ver se ano que vem a gente vai pra londres, porque costazul eu não aguento mais.