domingo, 25 de outubro de 2009

quinta

eu vi duas mulheres se estapeando na porta do meu apartamento. elas xingavam loucamente. mãe e filha, batiam-se. a mãe fingia a idade e o sexo, contou-me a outra vizinha. travesti. pai. travesti pai que gritava como mãe com a filha que não o aceitava. era a síntese de Copacabana.

- toma um rivotril?
- enfia essa porra no cu!

desisti de acalmar a moça.

- eu sou sua mãe, sua vagabunda!
- só mulher pode ser mãe.

eu, assustado, entrei. mas saí novamente. era almodóvar demais pra uma madrugada de quinta. e a velhinha me gritava. separa, separa as duas, elas vão se matar! e eu separei, meti a mão no silicone do braço, do rosto, do peito. separei mãe e filha. pai e filha. ou filho. e ela, filha, pegou uma mala e voltou pra minas, voltou a fingir ser órfã. buscou o dinheiro com a mãe/pai e voltou para minas. exatamente desse jeito: dinheiro, socos, gritos e mala cheia.

de tristeza.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

eu cantava no carro, fazia as curvas, corria as retas, tudo cantando. tudo pelo canto. e foi pelo canto que vi minha retina ser estuprada pela imagem que sempre me fizera amar. ela estava à minha frente de novo; no mesmo cenário de sempre, linda como de costume. aquela mistura de cores e sentimentos. dores e esperança. eu esperei um sorriso depois de buzinar. em vão, obviamente.

mas de qualquer forma, ela continua sabendo me tornar à vida. pela dor ou pelos beijos. me sinto vivo. sinto. sinto que importa sentir. mas não sei mais se faz sentido. isso de sentido nunca foi meu forte. meu fluxo tem movimento não-linear; variado. é lento e rápido. forte e fraco. mas independente da postura que ele assuma, quem manda e sempre mandou nele foi ela.

que me fez parar. olhar. refletir. e viver assim, torto.

domingo, 4 de outubro de 2009

sobre o fim de semana

uma praça bem à minha frente. varanda. pessoas. pessoas. as melhores e as outras. as melhores pessoas estavam comigo naquela varanda pintada de malte. as melhores palavras e luzes. os melhores escuros, sorrisos, temperaturas. as melhores histórias. eu agradecia. uma, duas, três vezes. eu agradecia porque não merecia, eu não merecia estar ali. o leblon é bom demais para ouvir nossas conversas.

eu precisava daquilo. daqueles. eu era tudo que queria de novo. era whisky. eu era a melhor pessoa que descobri em mim. meus afetos, meus desejos, minhas texturas, meus sorrisos, eles me contruíam, me construíram. eu fui feito por eles, sou cria, sou eles nos meus gestos.

eu passo mal. cabeça doída. tristeza na voz. nos olhares escondidos por meses de afastamento.

eles sabiam disso e vieram me tratar. trouxeram a minha vida à minha vida. os meus melhores rodeios, meus melhores sentimentos. aquilo que um dia eu fui e que posso voltar a ser. eles trouxeram. de volta. numa volta pela capital. numa visita. eles trouxeram com eles, pra mim, tudo que eu precisava.

obrigado.