quinta-feira, 25 de junho de 2009

carta para um amigo bem próximo

você sempre foi de todos nós o mais natural. surpreende a todos com as frases e gestos que variam entre a teimosia e a convicção. por vezes está errado. sabe disso e continua a afirmar. basta, a conversa é prolongada pelos argumentos mais imbecis que podem ser proferidos.

você sempre teve o raciocínio mais crítico. ponderado, é verdade. mas justo. esfrega na cara de todos como é simples ser feliz. sofre. sofre mesmo. tem dúvidas, receios, frustrações. mas nada que lhe tire o sorriso. nada que o faça deixar de ser o porto.

você sempre foi o professor. apesar de comportar-se como aluno. ouvindo. ouvindo. nunca falando. não é bom com as palavras. e é melhor que saiba disso o quanto antes. pedro, você é muito melhor fazendo que falando.

terça-feira, 23 de junho de 2009

sobre um fim

o mau humor é crônico. o mundo parece parado até que tudo se resolva. talvez eu tenha perdido a parte mais bonita que havia em mim. a parte pura de confiança e vontade. aquele coração que eu estava achando dentro do meu coração.

as palavras não refletem mais nada, mais ninguém. o silêncio e os olhares gritam frases em preto e branco. o mundo desmorona e eu não vejo. olhos fechados para o perdão. porque não foi traição, não foi. foi mais. foi a demonstração de que nada vale à pena. que é melhor tudo dispensar, porque nada compensa.

ter ciúmes é a demonstração mais egoísta de amor.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

forte é aquele que tem no coração um outro coração e uma outra cabeça; que pode amar dentro do amor e pensar simplesmente com ele. queria sê-lo e tento a cada minuto me provar que posso. que tudo compensa quando nada dispensa. que a vida é mais bela e intrigante quando se é e pronto. quando a cabeça se encarrega da burocracia já gasta do dia-a-dia, e libera o coração e seu coração e sua cabeça para amar e deixar ser amado.

e que quando for amado com pudores prove que tal amor não basta. que nada basta se não houver entrega total. que, quando for rejeitado pela razão, diga a ela que a detesta. que ela corrompe o que há de mais puro e irreversível. porque o amor é irreversível. finito, mas sem volta. que quando estiver a ponto de desistir de mais uma última tentativa, lembre que é sempre em uma última tentativa que o acerto acontece. que tudo que prima pela perfeição é uma última tentativa.

e que, quando sentir que não é mais amado, ame mais, pois é melhor amar sozinho que não amar ninguém.

domingo, 14 de junho de 2009

acabou. o tempo engole o que era mais farto, no tempo. as decisões precisam do imediato. e ele já foi embora com o tempo.

os saudosistas não entendem, mas o tempo foi e vai sempre. dois mil e cinco foi, e mesmo que queiramos sentí-lo em cada vão segundo, ele não vai reaparecer. ele foi vivivo lá mesmo, naquele tempo em que tudo era natural e impaciente. onde aqueles jovens sem preocupações brincavam de ser jovens despreocupados. levavam a brincadeira a sério. discutiam regras e brigavam para seguí-las.

o amor foi descoberto entre uma dose e outra; o gosto amargo do uísque lembrava que tudo era só brincadeira, que não eram tudo aquilo que queriam. era tudo piada bem dita, palavras escolhidas sem rigor. sem culpa, sem medo, sem antes nem depois.

porque o que havia ali ultrapassava o uísque, o dois mil, o cinco, as palavras e o rigor. era a descoberta daquilo que vem a ser chamado de amizade. era amar e ser amado, sem amante sendo amigo.



mas o tempo continua aqui, engolindo tudo. fazendo virar texto o que um dia foi a vida.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

passo a passo

pronto. a cabeça tá feita. certa do querer. do poder ou não-poder. não há nada mais sincero que eu possa dizer. me sinto consciente dos erros, dos acertos, dos sentimentos e inquietações. talvez seja tarde. mas não poderia assumir as responsabilidades sem a segurança que hoje flui pelo meu sangue. os meus sonhos hoje casam comigo, com que sempre fui e não deixei de ser. o sorriso parece querer voltar a ser gratuito. as mãos demonstram-se viciadas pelos laços ou nós que não foram desfeitos. nós não fomos desfeitos. ou fomos.

chega de colocar sentido no sentimento. atribuir valores às vontades.

elas são e existem por si, por mim, a sós.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

epitáfio dos vinte

"ele foi um apaixonado. dava a cada minuto cores e texturas próprias. sempre quis estar rodeado de amigos, precisava disso para viver. ainda que esses não fossem aquilo que lhe fazia melhor. só o amor lhe faria melhor. mas ele uma vez disse que não amava as pessoas, que ninguém amava as pessoas, que ele amava os momentos, os detalhes dos momentos e desde o primeiro amor, ele buscava o amor novamente, o momento novamente.

ele foi sincero. discutia consigo mesmo buscando a sinceridade dos gestos e das mentiras. contradizia-se por julgar mais sincera a contradição. a mudança e o atrito sempre tinham a verdade como cenário. alternava o amor e o ódio para fugir do rancor. porque uma vez disse que o rancor é um sentimento falso. e que se é falso não é sentimento. e ele fugia do que não era sentimento.

ele foi um erro. um grande erro que sempre carregou acertos. mas uma vez ele disse que era melhor tentar o acerto o tempo todo transformando-se em um grande erro, que omitir-se da paixão e da sinceridade.

ele era paixão sincera. errada."

terça-feira, 2 de junho de 2009

eu por mim

o meu curso é sempre o mesmo, não tem afluentes. é caminho seguido e repetido à exaustão. desde sempre é o exagero consumindo exagero, no pão, no estudo e no amor. minhas dúvidas sempre foram enormes e maniqueístas. a vida me vive. sem que eu sinta. consome até meu último respirar e depois me obriga a seguir, rumo à outra. se tudo parece errado, no trabalho, no estudo e no apartamento, eu prefiro a mudança drástica, sem eleger justificativas. odeio as metas pelo caminho, o importante é o final. os afluentes, repito, não me atraem. eu gosto mesmo é daquela rota que eu já conheço, do pão, do estudo e do amor. do ser diferente ou igual, de ser o maior ou o menor, detesto o mais ou menos, que na verdade representa o ou, o politicamente correto, que representa o ter que. se é politicamente não pode ser correto. se é mais, não pode ser menos.

se eu sou eu, nada posso ser, além de mim.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

jardim de metal

as queixas que esperam promessas matam pouco a pouco aquele que não sabe mais o que prometer. são noites pensando em como agir e sentir, na mais completa solidão. logo ele que agia com tanta objetividade, com tanta clareza de sentido e finalidade. é doce castigo a inquietação, é olhar pela janela com medo de ver que tudo que mais se quer está dentro de casa, guardado no armário cansando de esperar. é o medo de assumir que não é capaz de cuidar de um jardim tão lindo, é o peso que carrega sempre que vê as flores sorrirem, metálicas ou não. queria pedir pra ser cuidado, mas o orgulho não permite; as palavras fogem quando são e quando não são pronunciadas. vão pra longe, pra dentro, pro lado ainda limpo que existe no seu coração. o homem quer sair do castigo, mas tem medo do mundo.

porque só de olhar, sabe que o que parecia castigo é muito mais bonito que o mundo.