domingo, 25 de outubro de 2009

quinta

eu vi duas mulheres se estapeando na porta do meu apartamento. elas xingavam loucamente. mãe e filha, batiam-se. a mãe fingia a idade e o sexo, contou-me a outra vizinha. travesti. pai. travesti pai que gritava como mãe com a filha que não o aceitava. era a síntese de Copacabana.

- toma um rivotril?
- enfia essa porra no cu!

desisti de acalmar a moça.

- eu sou sua mãe, sua vagabunda!
- só mulher pode ser mãe.

eu, assustado, entrei. mas saí novamente. era almodóvar demais pra uma madrugada de quinta. e a velhinha me gritava. separa, separa as duas, elas vão se matar! e eu separei, meti a mão no silicone do braço, do rosto, do peito. separei mãe e filha. pai e filha. ou filho. e ela, filha, pegou uma mala e voltou pra minas, voltou a fingir ser órfã. buscou o dinheiro com a mãe/pai e voltou para minas. exatamente desse jeito: dinheiro, socos, gritos e mala cheia.

de tristeza.