domingo, 20 de dezembro de 2009

abraços partidos

enquanto eu olhava as fotografias do nosso tempo, eu lembrava dos nossos sonhos, das nossas letras misturadas nos papéis sem validade, de você olhando pra mim com cara de quem quer mais nada. eu assisti a umas imagens desorganizadas das quais não éramos protagonistas, mas que aparecíamos rapidamente. e você me abraçava. simplesmente me abraçava e eu sorria. doeu em mim ver que eu era feliz entre seus braços. doeu em mim olhar para meus livros que você sonhava ler e deixou pra trás.

meus dias têm passado tão lentamente que me parece muito distante o dia em que te dei aquele primeiro presente. e ele hoje parece tão velho. o rosa desbotou. as costuras cederam. nós cedemos. largamos os abraços, os beijos, o sexo. cedemos às vontades que não eram nossas. paramos para pensar quando não era necessário. deixamos que as músicas se fossem, que os discos arranhassem, que as piadas perdessem a graça, que nós perdêssemos um ao outro. desejamos ser nossos sonhos que eram apenas sonhos. distantes. sozinhos.

mas as fotografias ficam, e aquele abraço eu nunca vou esquecer. porque ele ainda existe. desfocado, não nítido. mas feliz.