Começou pelo ego, como sempre. Só que aquele rosto doce realmente havia lhe encantado. Ele não sabia dizer ao certo por que, mas os cabelos longos, a palavra baixa, a transparência de sentidos e de sentimentos, tudo isso misturado, tinha mexido com sua cabeça. E tinha o sotaque também, interiorano, que ele não conhecia. Eles conversavam muito, e os olhos da menina brilhavam com as dissertações do escritor sobre o amor. Ela delirava ao ouvi-lo contar suas histórias, imaginando os lugares que ele tinha conhecido, as línguas que ele falava. E ele, delirava também, ao enxergar na moça aquilo que não mais via em outras: uma paisagem a ser pintada.
Foi nesse dia que o homem resolveu retomar a vida. Viver de novo. Dar novas cores ao quadro, que parecia finalizado, da sua vida.