segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

exercício de descrição #1

república do peru, esquina com nossa senhora de copacabana. galeto. é o dono do restaurante, um frequentador assíduo ou alguém de quem eles cuidam. ele amedronta. seus poucos cabelos brancos contrastam com sua sobrancelha preta. preta mesmo, muito preta. e o cabelo é branco, branco mesmo. ele contrai a face, mastiga um palito de dentes, cospe e pega outro. fala qualquer coisa com um dos garçons em espanhol - donos de restaurantes costumam ser espanhóis em copacabana - e fecha os olhos. logo desperta e gesticula muito com os braços enquanto resmunga. levanta da cadeira vermelha de plástico, entra no restaurante e volta minutos depois, para a mesma posição, mastigando o mesmo palito, ou outro, não sei. não faço ideia se o bar é dele, mas cobra seis reais numa garrafa de cerveja quente. talvez daí o mau humor, daí a face contraída e os poucos cabelos. ele abre os botões da camisa, estica as pernas -não há mesa à sua frente -, e dorme enquanto almoço. definitivamente não volto ali. jamais. foi uma sensação de depressão adquirida. roubei o passado, as frustrações, os revides, as porradas que aquele homem levou da vida, e sequer sei o seu nome. engoli a comida rapidamente e voltei para casa pensando...

ele, se for o dono, espanta os próprios fregueses. se for um frequentador, não vale tanto à pena. e se for alguém de quem eles cuidam, precisa de mais cuidado.

da antologia: gente estranha que mal me acompanha