quarta-feira, 2 de setembro de 2009

fantasiando

pareciam nunca ter-se visto. mas era mentira, sempre notaram-se, e as vontades de um chocavam-se com as metáforas complexas do outro. um era amargo demais e por isso não suportava o açucar alheio. no começo eles eram assim, duas pessoas comuns que buscavam, como quaisquer pessoas comuns, alguém comum. mas havia ali uma fuga circular, não podiam admitir os desejos que passaram a permear suas noites - e desejos rimam com álcool e só são literais depois das dez.

- acho que toda essa sua segurança é uma fantasia mal acabada.
- somos sempre mal acabados, viver é acabar-se aos poucos.

e assim eles trocavam farpas e começavam a trocar sorrisos no leblon. e palavras. e beijos. as metáforam misturaram-se com as verdades, e com os desejos e com a ironia . e com os dias.

foi que se foram esses dias, os meses e os anos. foram. e teriam sido com qualquer um.

foram porque queriam, queriam porque não eram. nunca haviam buscado ser nada , só queriam quando estavam. e morreram, porque passaram a ser, juntos, uma coisa qualquer muito bem acabada.