quarta-feira, 23 de setembro de 2009

sono leve

ela estava toda arrumada. e eu pouco humilde achei que era para mim. um dia haveria de ser para mim, e era aquele. era aquilo que eu sonhava. aquele vestido. eu vestido para aquele vestido. de barba feita e entregue ao sonho. até a luz era fria naquela noite, e eu que já esquecera como ser quente suava sem saber se as frases e gestos eram para mim.

as frases e os gestos eu não sei, mas o vestido era. era o vestido. vestida de sonho. exato. igual ao sonho. e ela falava por entre as palavras, pelo menos para mim. ela gritava por entre as frases sem sentido. eu não acreditava. olhava para as minhas mãos de cigarro filtro amarelo e pensava. era um sonho. ela ria para mim. ou de mim. mas ria, ria, e eu parado, olhando para o vestido. sonhando.

eu amava. por instantes eu amava. era poesia concreta à minha frente, era a dúvida do quanto duraria. eu engolia o momento sem saliva. engolia aquele momento seco. era frio e seco e eu não queria outra coisa. não queria ninguém além daquela que estava no vestido. o vestido do sonho. queria só vestir-me de sonho e sonhar, viver o sonho ali, entre as palavras e as mãos.

eu vivi. eu vivi meu sonho. eu vivi com o vestido o meu sonho. eu casei. casei e cansei. do sonho que desbotou.